ZELITE…

         Quando
Euzébio casou, o senhor Conde fez questão de mostrar sua fortuna, afinal Binho
não casaria com qualquer uma e sim com a mais prendada das criaturas, Sintya
Ramires de Albuquerque Lins, filha do ilustre comendador Ramires Lins, um homem
que se fez sozinho… A vida é cheia de surpresas e Mirinho, apelido carinhoso
do Comendador, na infância foi de uma pobreza extrema, catador de latinhas,
engraxate, menino de recados, pistoleiro de aluguel, posseiro, trambiqueiro.
Mau caráter que encontrou na politicagem o trampolim do sucesso.
         Sintya
era um produto de primeira. Na meninice um horror, mas como o dinheiro compra
tudo, papai deu um jeito e após a adolescência surgiu uma linda mulher
siliconada, dentes implantados, peruca loira importada da Suécia e lindas
lentes de contato azuis. Conseguiu permissão para a troca de nome, de Marcolina
Lins passou a Sintya Ramires de Albuquerque Lins, a dondoca mais cobiçada pelos
caça-dotes da cidade. Papai também comprou um diploma universitário, a garota
era um tanto burrinha e jamais saiu do curso básico, agora era uma jornalista
muito aplaudida, papai adquiriu um espaço no prestigiado jornal de Lander Vopes
e semanalmente a dondoca dá dicas de pratos exóticos.
         Euzébio,
um mequetrefe de primeira nunca necessitou trabalhar, papai Conde o mimoseava
com carros, motos, lanchas e o último presente foi um helicóptero. O boy é seu
único filho e herdeiro universal. O casamento com a bela Sintya mereceu a mais
requintada festa da cidade.
O terno de
Binho era um Armani e o vestido da noiva confeccionado na Inglaterra, um cantor
de sucesso entoou a Ave Maria, um bispo oficiou o casamento e cada convidado
recebeu uma lembrancinha do fabuloso evento. Os convidados eram da fina flor da
sociedade endinheirada. Muitos comerciantes e profissionais liberais não
receberam o convite para as bodas, eram apenas flores e não finas-flores da
Zelite local.
Após o
casório, a festança. As dondocas dondocavam, os políticos politicavam, os comes
e bebes de primeira eram consumidas com avidez, as conversas giravam em torno
de viagens internacionais e das muitas fofocas que permeiam a vida de quem não
tem nada de útil para fazer.
Quando o
Senhor Conde estava a agradecer a presença de todos, eis que adentrou o recinto
um Oficial da Justiça e deu voz de prisão a Leandrinho, filho de um casal
famosíssimo na localidade, por não pagamento de pensão alimentícia. A mãe de
Drinho fez o maior escândalo, um quebra barraco para ninguém por defeito, um
escarcéu que ficará na história e fez questão de acompanhar o mimado pimpolho
até a delegacia, se propondo a quitar a dívida na hora. Pois não é que deu um
cheque sem fundos! Que vergonha.
O Senhor
Conde e o Comendador Ramires Lins cortaram relações com os pais de Leandrinho,
pois não passavam de falsos ricos, aqueles que comem ovas de Tainha e espalham
que degustam caviar… Os que não foram convidados por não merecerem a
companhia de gente tão ilustre estão rindo e deram graças por não participarem
da baixaria da elite, pois é! Zelite que se presa sempre apronta.
Gastão
Ferreira/2012   

Deixe um comentario

Livro em Destaque

Categorias de Livros

Newsletter

Certifique-se de não perder nada!