VISITA INTRAGÁVEL…

         Jamais me esqueci daquela visita
especial, veio de muito longe, alem dos espaços estelares. Em plena segunda
feira, dia do pessoal do sitio se apossar da praça, dia de lotérica cheia e
longas filas nos Bancos. Chegaram sem avisar, sem foguetes, sem banda de
música, sem salamaleques.
         O disco voador desceu na orla do mangue
e foi uma grande correria; – O que será? Um carro alegórico do carnaval
desovado na beira da água? Um novo monumento para enfear a cidade? O que será?
Vamos procurar as lideranças e perguntar o que é esta geringonça…
         Estava o povo neste conversê quando
chegaram às quinhentas pessoas que se achavam líderes… Afastaram o povão e um
dentre eles se apossou do microfone; – “Calma minha gente, este objeto é um
presente dos deuses, veio de muito longe, igual a nossa querida Cruz de pedra e
eu prometo que neste local farei uma nova pracinha que custará três milhões e setecentos
mil Reais…”, foi neste momento solene que a porta do objeto não identificado
se abriu e um ser muito parecido com um Praquequi se apresentou em excelente português;
– “Levem-me a seu líder?”.
         Imediatamente os quinhentos puxa-sacos,
digo lideres, abriram caminho para quem realmente mandava no pedaço… Nove
pessoas se aproximaram do extraterrestre e o povão murmurando; – “Aquele ali
não é o metido a besta do… E aquele outro não é o encarregado do… Aquele
mais jeitosinho não é o do último escândalo? Cadê nossa mãe? Cadê nossa dona?”.
         Foi neste momento que um carro oficial,
cantando os pneus, trouxe a verdadeira líder, que não chegou junto com o
restante do bando porque não se mistura com a oposição e a gente nem
desconfiava que existisse oposição. Foi grande a ovação na chegada da líder
máxima, não!… Não jogaram ovos em ninguém. Apenas se ajoelharam e bateram
palmas como de costume.
         O Praquequi se apresentou como já
informei em excelente vernáculo, nossa amada e inteligente líder falou; – “Será
que o sinhô pudia falá em portugueis?” No que foi assessorada pelo diretor
de… Que sussurrou ao seu ouvido; -“ Mamãe! Ele está se comunicando em
português castiço. Fique fria que eu traduzo!”
         Para encurtar a conversa o
extraterrestre explicou que sua nave, de última geração, estava se aproximando
do sistema solar quando captou algumas conversas, discursos talvez, em que uma
criatura, quem sabe um ator fracassado!, tamanha a verve e veemência com que
tecia loas exageradas a uma cidade tombada, que toda a tripulação quis conhecer
o magnífico local… Pediu permissão a grande líder para que seus fotógrafos,
historiadores e técnicos espiassem tal maravilha.
         Meia hora passearam os turistas, quando
voltaram vieram de cabeça baixa, mostraram as fotos ao Praquequi e este fulo da
vida, encarou a amada líder e disse na lata; – “Olha aqui Alteza! Veja estas
fotos… Praças abandonadas, prédios em ruínas, lixo nas ruas, cavalos pastando
no perímetro urbano, um monte de mendigos incomodando meus passageiros,
monumentos faltando pedaços, alcoólatras dominando uma esquina da cidade…
Propaganda enganosa é crime! Você não sabe?”.
         A líder não sabia o que dizer,
simplesmente encarou um de seus amados assessores e falou; – “Caramba! Você me
põe em cada fria meu filho. Perdemos a chance de faturar uma bela grana com a
construção da nova pracinha e ainda ficar conhecidos alem das fronteiras do
universo.”.
         O Praquequi fez pouco caso da mandona
máxima e falou para sua tripulação; – “Entrem na nave! Já que estamos aqui
vamos conhecer Cananéia e quem sabe salvar parte da viagem.”.
         Quando os visitantes abandonaram a cidade,
os quinhentos bajuladores, digo adorados líderes, escolheram entre eles um
porta voz que falou ao povão presente; -“ Se algum de vocês abrir o bico sobre
o ocorrido aqui hoje, vai ficar sem cesta-básica, sem dentadura, sem ambulância
e sem serviço … Desocupem a área… Caiam fora… Vão cuidar da vidinha
medíocre de vocês que nós da diretoria vamos nos reunir no “Recanto dos Urubus”e
fazer um abaixo assinado repudiando esta visita intragável… Aí galera vamos
almoçar no “Recanto dos Urubus”e esquecer esta palhaçada!”
Gastão
Ferreira/2012
Obs.-
Vocês já viram um Praquiqui? Não?… Nem eu. Este texto é ficção, não tem nada
a ver com a realidade… Nossa cidade é limpa, não tem pedinte, não tem cavalos
pastando pelas ruas, nossa líder é culta e inteligente e não existe um
restaurante chamado “Recanto dos Urubus”, portanto, nada de vestir carapuças.    
        
        

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