URUBUS

            Voaram
em círculos sobre a montanha, dividiram-se em quatro grupos e partiram velozes
na busca de alimento. Uma parte do bando sobrevoou a cidade recém desperta,
sacolas plásticas contendo o lixo do dia anterior atraíram seus olhares. Os
restos de um cão morto a pauladas por atentado violento ao pudor foram
rapidamente consumidos.
         Sua Excelência contratou Bituca para
carpir o seu terreno. Bituca era um deficiente mental, não conhecia o valor do
dinheiro, mal balbuciava o próprio nome, tinha fome muita fome e precisava
comer. Sua Excelência prometeu pagar-lhe três Reais pelo serviço diário desde
que após carpir, retirasse os entulhos e os jogasse no lagamar. A refeição mais
em conta nos restaurantes da cidade estava em torno de dez Reais. Bituca era a
carniça de Sua Excelência.
         Martinha estava agoniada, a última
pedra fora consumida, o que restava de seus neurônios gritava pela droga.
Encontrou o traficante e usuário Landico na entrada da Fonte, não houve
necessidade de negociação, entraram na mata, despiram-se e o preço foi pago…
Martinha era um prato cheio para o abutre do Landico.
         Creide Maria pagou o dízimo, recontou o
que sobrou da parca aposentadoria e teve a certeza de que sua conta de luz
seria novamente cortada. Estava feliz, o zelador de sua alma continuaria a
comer do bom e do melhor, enquanto o demônio permanecesse amarrado o que
importava era a sua salvação. Creide Maria não sabia que os urubus sobrevivem
do seu medo da eterna danação.
         O contrato superfaturado foi comemorado
no melhor estilo, vinhos importados, garotas e garotos de programa, carne de
primeira para o bando do lixo moral, dos que gastam em uma noite o ganho de um
mês de quem batalha sem ter a quem reclamar e ainda bate palmas aos ladrões
urubus que corroem o país voando alto sem dar a mínima satisfação.
         Distenderam as negras asas, saciados
alçaram vôo, jamais entenderiam os homens esses bípedes sem penas que em sua
loucura afugentam a razão, maltratam seus semelhantes, matam os próprios sonhos
e acreditam serem os reis da criação. À noite em seus ninhos na montanha adormecerão
felizes na espera de um novo amanhã… Ah! Esses homens quando aprenderão que o
que importa é viver com o que Deus lhes dá.
Gastão
Ferreira
        

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