SALVE O REI!

         No
palácio Sua Majestade estava um tanto estressado. Pela manhã observara que as
chuvas noturnas abriram um pequeno buraco na rua lateral da nobre casa. Entre
seus auxiliares se contavam oitenta Assessores Diretos, duzentos e quarenta Assessores
Junior, quatrocentos e oitenta Observadores Apadrinhados, trinta empregados
efetivos concursados e ninguém notara a cratera dificultando a passagem das
carruagens e passantes.
         Durante
o magnífico café da manhã, na ala nobre do palácio, através do Super Secretário
Especial dos Amigos da Corte, o único capaz de ocupar oito secretarias ao mesmo
tempo, solicitou a convocação do Secretário de Assuntos Coligados a Chuva,
Tempestades e Surucação com a máxima urgência.
         Somente
após o almoço no “Recanto dos Bem-te-vis” com um grupo de empresários de outro
reino, o Secretário da Surucação conseguiu entrar em contato com o Secretário
de Decisões Concretas e Obras Emergenciais, transmitindo o nobre pedido do
Super Secretário.
         Uma
semana após, o Secretário de Decisões em reunião com o Primeiro Conselho do
Reino determinou com urgência urgentíssima a conclusão do pedido real.
         O
Primeiro Conselho depois de conseguir um local adequado para tantas e
importantes figuras, convocou o Segundo, Terceiro e Quarto Conselho de Decisões
Concretas, a reunião foi num anfiteatro, pois cada conselho era composto de
vinte e cinco membros regiamente pagos com os impostos dos contribuintes. Foram
unanimes e a solicitação de Sua Majestade foi encaminhada ao Conselho de Obras para
licitação, tomada de preços e afins.
         O
Conselho de Obras através de seu terceiro presidente consultou os órgãos
competentes, Ipham, Iphim, Iphem, obtendo, dois meses depois, um NIO (Nada
Impede a Obra) e após uma longa discussão técnica sobre qual o melhor tipo de
terra a ser utilizada, diversas consultas a departamentos coligados e parcerias
não contabilizadas, foi publicado o edital de concorrência e o custo inicial da
obra. Cinco meses se passaram e finalmente a obra sairia do papel.
         Uma
imensa placa, ao preço de R$2.000,00, justificava a população o custo total da
obra que ficaria em R$800.000,00. Seu Ditinho demorou exatamente quinze dias
para encher o buraco, utilizou um velho carrinho de mão de sua propriedade,
transportando a terra de um outeiro próximo e cobrou R$20,00 por dia
trabalhado.
         Sua
Majestade discursou bonito, falou de honestidade, ética, moralidade. Elogiou o
dono da firma que ganhou a licitação, parabenizou seus assessores e após os
foguetes foram em caravana ao “Recanto dos Bem-te-vis” comemorarem a cem Reais
por cabeça a conclusão da obra.
         Seu
Ditinho chama o rei de “Nosso Pai”, diz que ele tem um bom coração e que
demorou apenas sessenta dias para pagar os R$300,00 pelo serviço executado.
Salve o Rei!
Gastão Ferreira/2012

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