SATIM & SATUM…

         O bicho homem desde o inicio dos tempos se compraz em
dar nome aos bois. Adão se divertia adoidado no paraíso; – “Aquele animal vou
chamar de macaco! Não parece um macaco?”… Ficou meses nessa folia, mal
acordava e já saia a dar mil apelidos à bicharada, também não tinha nada à
fazer!
         Depois que foi expulso do Éden passou
um bom tempo aprendendo coisas banais… Inventar tijolos para erguer uma casa.
Cortar lenha sem machado para fazer uma fogueira. Pescar sem anzol, bolar
armadilhas para apanhar caça… Uma canseira de dar dó, isso sem contar a
obrigação de povoar o mundo, aguentar as brigas dos filhos e as crises
existenciais de Eva, codinome “minha ex-costela”.
         Os descendentes de Adão mantiveram o
costume e até hoje continuam a dar nomes e mais nomes a tudo e a todos. Sem
nome ninguém sobrevive. Difícil é arrumar uma alcunha nova, parece que todos os
apelidos já foram dados. Depois que inventaram as duplas caipiras, a coisa só piorou,
aja criatividade! Ateu & Atoa, Cosme & Damião, Joio & Trigo, Papai
& Noel, Erótico & Herético, Branco & Negrão, Alceu & Alçado,
Cheiroso & Cheirado, Tom & Gerry, Nei & Béte, Almir & Oncinha,
Santo & Pecador, Caim & Abel, Satim & Satum…
         Satim & Satum eram gêmeos
idênticos, o que os diferenciava era uma pequena anomalia genética em um dedo
do pé de Satim. Foi um grande erro de Seu Agenor ter dado esse nome as
inocentes crianças, pois os nomes lembravam Satã, o pai de todos os demônios.
Estapeavam-se desde o berço, se odiavam feito Cocho e Berne. O que um fazia o
outro destruía e ajam foguetes para tantas maldades! Dona Minervina, uma mulher
piedosa e mãe da dupla, nunca se conformou; – “Do mesmo pai! Da mesma mãe! Onde
foi que eu errei, meu Bonje?”
         Na verdade foram as amizades que
desencaminharam os pimpolhos. Satim era coleguinha de Junica, um moleque sem
caráter, sem vergonha e sem eiras e beiras, que ensinou ao amigo todas as
maldades possíveis e impossíveis. Satum era amigão de Atanásio, filho do
sacristão Bento de Ogum, um amor de criança. Jamais falou um palavrão, gostava
de cães e gatos, defensor dos oprimidos e da Mãe Natureza, um eco-chato de
nascença… Quanta diferença!
         Com o passar do tempo as coisas
pioraram. Satum foi estudar fora e Satim permaneceu no vilarejo tomando banho
no riacho, roubando peças sacras e placas de bronze comemorativas, quebrando
vidraças e perseguindo desafetos. Satum voltou doutor e casado com a
maravilhosa Estrela, uma ex-atriz pornô arrependida. Quando Satim viu a bela
cunhada, foi amor à primeira vista; – “Essa gata vai ser minha! Custe o que
custar.”
         Seu Agenor e Dona Minervina estavam
felizes da vida. A briga entre os filhos era coisa de crianças, agora eram
amigos e Satim não saía da casa do irmão. Quando Estrela engravidou, Satim
mostrou-se mais contente do que Satum e quando o bebê nasceu soltou foguetes.
         Satum se babava pelo filhote. Um dia
deu uma geral no neném e descobriu que a cria não era sua, havia uma pequena
anomalia genética num dedinho do pé, a marca de Satim! Fez o certo. Chamou
linda Estrela e Satim, armou o maior barraco e foi embora para a cidade grande
viver sua vida de doutor.
         Satim é um bom pai, assumiu o filho,
juntou-se com a bela Estrela, ex-atriz pornô e vivem infelizes. Mudou-se para
uma cidade próxima, onde futuramente haverá o maior carnaval do planeta e Estrela
voltou à antiga atividade as escondidas, apanha do marido, mas trás uma boa
grana a cada escapadela.
         Não sei qual a moral dessa história! Só
sei que a vida é igual a um jogo de xadrez em que não passamos de simples peças
descartáveis. Os Peões vão à luta, os Cavalos saltam, os Bispos são poderosos,
as Torres vigiam, a Rainha pode tudo e o Rei se ferra… Xeque-mate! Fim.
Gastão
Ferreira/2013
 
     

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