PÉS NO CHÃO…

         Naquela cidade medieval quem mandava era uma Princesa, tão
velha quanto à própria cidade. A nobre era um tanto fora da realidade e o poder
estava nas mãos de seus muitos filhos e filhas. Seus descendentes habitavam no
Paço Real, também conhecido como “A Casa da Mamãe”.
         Os filhos da Princesa, apesar de se acharem príncipes, não
eram de Sangue Real puro. A dita cuja gostava de dar uns pulinhos e a cada
quatro anos reproduzia dezenas de bastardos que infernizavam a vida dos pacatos
cidadãos do reino. O bom era que também a cada quatro anos ela deserdava e jogava
na sarjeta muitos dos filhos pilantras. O motivo de tal ocorrência era que
nesse período ela trocava de marido e o último consorte nem sempre assumia os
filhos do ex ocupante do trono e quem mandava era sempre o novo esposo eleito
pelo povo.
         A vida na “A Casa da Mamãe”, para os bastardinhos, era uma
eterna festa, comida farta e grátis nas melhores cantinas, conduções a
disposição da filharada, atendimento médico de primeira, viagens a custa do
contribuinte também chamado pejorativamente de Zé-povinho, uma troca contínua
de favores e muita sacanagem por baixo dos panos.
         Mamãe Princesa sempre foi esperta e nunca confiou em
ninguém. Dava com uma mão e tirava com a outra. Uma de suas filhas,
utilizando-se de artifícios secretos, conquistou as boas graças da soberana e
foi nomeada “despenseiro” do reino e imediatamente pensou que era a dona do
pedaço. Usou e abusou do cargo, afrontando os demais membros da realeza e
literalmente criou um novo feudo onde mandava e desmandava, no intuito de
destronar a Mamãe num futuro próximo. A ousadia foi tanta que indicou como
principal auxiliar uma ingênua criatura que prestava serviços na escada de
acesso ao Paço Real, cuja única preocupação na vida era arrumar um marido rico
e isso dava muito que falar! O Mordomo Real entrou em ação.
         O abridor e fechador de portas do Palácio, também conhecido
como O Mordomo Real da “A Casa da Mamãe” entrou em rota de colisão com a “despenseiro”,
mexeu nos pauzinhos certos e detonou com o desafeto, com isso acrescentou novo
título ao currículo; – “Meu Tesouro, Meu Herdeiro”. O populacho ficou sabendo
da tramóia “meu herdeiro” e preparou uma vingança terrível, cujo desfecho está
previsto para o final do próximo ano, aliás, um ano eleitoral. Parece que
exigirão uma faxina geral no reino e o retorno de algumas personagens exiladas,
entre elas, dona Ética e dona Transparência, com sua filha Humildade.
         Naquela cidade medieval, parada no Tempo por decreto, a
vantagem e o lucro põem máscaras virtuosas onde a integridade inexiste. A
memória trás histórias de um passado multissecular e a vida continua mostrando que
o ouro é um brilho passageiro e fica na Terra. Que todos os que caminham de pés
no chão, semeando amizade e paz, são felizes.
Gastão Ferreira

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