OS SONHOS NUNCA MORREM…
Local
estranho! Muita neblina. O rapaz de olhar tristonho tinha um quê de velho
conhecido. Puxei conversa; – “Tenho a impressão de que já nos vimos em algum
lugar!”
estranho! Muita neblina. O rapaz de olhar tristonho tinha um quê de velho
conhecido. Puxei conversa; – “Tenho a impressão de que já nos vimos em algum
lugar!”
–
“Sim! Conhecemos-nos há muito tempo, não estás lembrando?” Perguntou
lacônico.
“Sim! Conhecemos-nos há muito tempo, não estás lembrando?” Perguntou
lacônico.
–
“Você é muito jovem! Acho que não te conheço…”
“Você é muito jovem! Acho que não te conheço…”
–
“Quando garoto, o teu maior sonho era estudar medicina, não era?” Indagou o
moço.
“Quando garoto, o teu maior sonho era estudar medicina, não era?” Indagou o
moço.
–
“Realmente! Mas como você sabe disso?” Inquiri.
“Realmente! Mas como você sabe disso?” Inquiri.
–
“Eu sou o teu sonho não realizado! Reparou no jaleco branco? Eu sou você
estudando medicina…”
“Eu sou o teu sonho não realizado! Reparou no jaleco branco? Eu sou você
estudando medicina…”
–
“Para com isso! Que loucura. Eu nem sei como entrei nessa sala enfumaçada…”
“Para com isso! Que loucura. Eu nem sei como entrei nessa sala enfumaçada…”
–
“Isso aqui não é uma sala, é a tua mente…”
“Isso aqui não é uma sala, é a tua mente…”
–
“Minha mente? E todos esses vultos estão fazendo o quê dentro da minha mente?”
“Minha mente? E todos esses vultos estão fazendo o quê dentro da minha mente?”
–
“São as tuas fantasias não realizadas! Você nos deu vida, nos alimentou…
Somos o teu fracasso personalizado! Somos parte de você.”
“São as tuas fantasias não realizadas! Você nos deu vida, nos alimentou…
Somos o teu fracasso personalizado! Somos parte de você.”
–
“Caramba! Tem muita gente por aqui…”
“Caramba! Tem muita gente por aqui…”
–
“Observa aquela criança! Tem oito anos de idade e está à espera da tão sonhada
bicicleta que ficou na promessa…”
“Observa aquela criança! Tem oito anos de idade e está à espera da tão sonhada
bicicleta que ficou na promessa…”
–
“É verdade! Aos oito anos meu maior desejo era possuir uma bicicleta. Meu pai
era pobre, família numerosa, a “baike” foi só uma fantasia que morreu!”
“É verdade! Aos oito anos meu maior desejo era possuir uma bicicleta. Meu pai
era pobre, família numerosa, a “baike” foi só uma fantasia que morreu!”
–
“Não fale assim! Os sonhos nunca morrem… Adormecem.”
“Não fale assim! Os sonhos nunca morrem… Adormecem.”
–
“Mas por que é assim? Não morrem?”
“Mas por que é assim? Não morrem?”
–
“Imagino a dor de carregar um sonho morto! Deve ser algo assustador…
Angustiante… Macabro! Um peso imenso para se carregar.”
“Imagino a dor de carregar um sonho morto! Deve ser algo assustador…
Angustiante… Macabro! Um peso imenso para se carregar.”
–
“O que eu não entendo é o que fazem vocês dentro da minha mente? Por que não
foram morar com outro alguém? Com alguém que pudesse concretizar o sonho…”
“O que eu não entendo é o que fazem vocês dentro da minha mente? Por que não
foram morar com outro alguém? Com alguém que pudesse concretizar o sonho…”
–
“Não podemos! Você nos criou… Somos uma parte de você. A parte nunca
consolidada… Aquelas outras ideias, as que se realizaram ganharam vida
própria, elas nasceram! Nós somos os que ficaram e repare na quantidade de
sonhos aqui presentes…”
“Não podemos! Você nos criou… Somos uma parte de você. A parte nunca
consolidada… Aquelas outras ideias, as que se realizaram ganharam vida
própria, elas nasceram! Nós somos os que ficaram e repare na quantidade de
sonhos aqui presentes…”
Sim!
Foram tantos sonhares. Sonhos de uma vida inteira, sonhos de menino, sonhos de
adolescente, sonhos de moço, sonhos de velho. Todos eles me espiavam, me
cercavam… Não me acusavam, mas em seus olhos eu notava uma tristeza sem nome,
uma fome que foi minha fome, uma angustia que foi minha companheira… Uma dor
tão antiga… Saudade de coisas abandonadas pela metade!
Foram tantos sonhares. Sonhos de uma vida inteira, sonhos de menino, sonhos de
adolescente, sonhos de moço, sonhos de velho. Todos eles me espiavam, me
cercavam… Não me acusavam, mas em seus olhos eu notava uma tristeza sem nome,
uma fome que foi minha fome, uma angustia que foi minha companheira… Uma dor
tão antiga… Saudade de coisas abandonadas pela metade!
Acordei
em prantos, lágrimas dos meus sonhos trancados dentro de mim… Pedaços
esquecidos, largados, abandonados, órfãos de mim… Lavo o rosto, olho-me no
espelho e meus olhos são os mesmos olhos do menino sem bicicleta, do jovem que
não estudou medicina e tenho a certeza de que os sonhos nunca morrem. Mesmo não
realizados, eles foram a melhor parte de mim…
em prantos, lágrimas dos meus sonhos trancados dentro de mim… Pedaços
esquecidos, largados, abandonados, órfãos de mim… Lavo o rosto, olho-me no
espelho e meus olhos são os mesmos olhos do menino sem bicicleta, do jovem que
não estudou medicina e tenho a certeza de que os sonhos nunca morrem. Mesmo não
realizados, eles foram a melhor parte de mim…
Gastão Ferreira/2013
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.
