OS SAMBAQUIS

HISTÓRIAS DO ARCO DA
VELHA – II
         Paleontólogos
afirmam que nosso litoral é habitado de forma contínua há 45.000 anos. Os
primeiros grupos humanos eram constituídos por pessoas de baixa estatura e
dentes desgastados, viviam em colônias de cem indivíduos no máximo e morriam
antes dos trinta anos. Eram pescadores coletores e praticavam a agricultura, deles
herdamos o uso do pilão, da canoa e do trançado de esteiras, essa gente foi à
formadora a 10.000 anos dos sambaquis.
         Sambaqui,
do Tupi “Tambaqui” significa “monte de conchas”, também conhecido como concheiras,
casqueiros, berbigueiras. Os grupos formadores dos sambaquis alimentavam-se de moluscos,
frutos silvestres, pequenos animais, macacos, porcos-do-mato e principalmente
de peixes como raia e tubarão. A grande incidência de cáries encontrada nos
dentes dos cadáveres indica alto consumo de mandioca. As espinhas de peixe,
esporões de raia, ossos de macacos e porcos-do-mato eram afiados para virarem
arpões e lanças de pesca. A presença de ossos de predadores ferozes como o
tubarão nos casqueiros, mostra que nossos homens pré-históricos eram exímios e
corajosos pescadores.
         Na
essência um sambaqui era um cemitério onde eram depositados os cadáveres dos
elementos do agrupamento e depois recobertos por conchas, pedaços de cerâmica,
madeira, lascas de pedras, resto de ossada animal, equipamento primitivo de
caça e pesca, e, até por objetos de arte. Um verdadeiro arquivo do modo
primitivo de viver. Após cada camada de sessenta centímetros de lixo alimentar,
voltavam a enterrar seus mortos. Quarenta e três mil esqueletos foram
encontrados em um único sambaqui ao sul do Estado de Santa Catarina.
         Os
formadores de sambaquis foram eliminados ou se miscigenaram às culturas Tupis-guaranis,
que avançaram do interior do continente para o litoral por volta do inicio da
era cristã. Alguns sambaquis foram erguidos ao longo de mil anos. Com vinte
metros de altura, centenas de metros de extensão e aproximadamente cem metros
de diâmetro são nossos monumentos pré-históricos mais importantes. Nossos
indígenas pré-colombianos não possuíam escritas, toda a história era
transmitida via oral, assim no decorrer de tantos milênios, as referencias a
este povo foi perdida; o que se sabe é o que os paleontólogos deduzem ao analisarem
os ostreiros.
         Iguape
foi privilegiada, possuiu centenas de sambaquis, os poucos que restaram após as
grandes construções do período colonial, estão localizados na Barra do Ribeira,
Praia do Leste, Icapara, ao lado da Caverna do Ódio próximo a ponte da
bi-municipal, no Canto do Morro, no Rocio no inicio da estrada que vai para o
Jairê, no Mumuna e na Ilha Comprida. Muitos sambaquis foram destruídos para a
utilização do calcário na construção do Porto de Iguape e das muitas igrejas.
Tal fato pode ser comprovado nas paredes dos velhos casarões repletos de
fragmentos de ostras.
         Nossa
velha Iguape guarda em seu solo o vestígio de muitas eras, nosso chão pisado
por milhares e milhares de pés, nosso lagamar e rios mataram a fome de
multidões, nossas florestas ofertaram suculentos frutos alem da abundante caça,
nossos antepassados amaram, guerrearam, contaram histórias para seus filhos,
sonharam um mundo melhor e nós alheios em meio a tanta beleza, desconhecemos
nosso passado milenar, vivemos a mediocridade dos dias sem se dar conta que
pisamos no paraíso.
Gastão Ferreira/2012/Iguape     
          

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