O ÚLTIMO HOMEM

         Não
sei o que será de nós, tenho a impressão que a raça dos homens não tem futuro.
Quando os grandes répteis foram extintos, nossa espécie dominou o planeta. Não
o mundo inteiro, apenas a parte chamada Europa. Segundo a tradição oral, legada
por nossos antepassados, sempre moramos em cavernas. Na atualidade disputamos
espaço, alimentação e território com criaturas desconhecidas às quais
apelidamos de dragões.
         No
inicio os dragões eram nossa presa favorita, carne macia e saborosa, seus
filhotes nosso alimento predileto. Os dragões, segundo a lenda, habitavam as
grandes florestas africanas, moravam sobre as árvores e se alimentavam de
frutas, se comunicavam por sons, viviam em bandos. Com o tempo abandonaram a
alta vegetação e invadiram a pradaria, nosso território de caça.
         Os
dragões residem em cavernas. São frágeis, morrem fáceis. Nós os humanos desde
tempos imemoriais somos seus predadores. Algo aconteceu com os dragões, algo
maléfico os guia. Eles descobriram como criar o fogo, conseguiram manufaturar
armas letais. Quando desceram das árvores se defendiam com paus e pedras,
depois inventaram a temível lança e na atualidade utilizam um aparelho mortal
chamado de arco e flecha.
         Estamos
perdendo esta guerra. Poucos de nós sobrevivem as emboscadas dos dragões.
Quando eles atacam, assaltam em grupo. Invadem nossas cavernas, matam nossos
filhos, não fazem prisioneiros. Nunca existiu um animal tão sedento de sangue,
tão violento quanto um dragão.
         Alem
de sua impetuosidade, os dragões são terrivelmente feios. Apesar da carne tenra
e saborosa, seu aspecto exterior é apavorante. Andam sobre duas pernas, possuem
um par de braços longos, cobrem o corpo com a pele de suas vítimas, sobre suas
pequenas cabeças crescem cabelos e para completar tão sinistra figura de seus
crânios nascem duas orelhas, dois olhos, um nariz e uma única e pequena boca
com poucos dentes. Simplesmente um horror!
         Nós
os humanos somos a perfeição, a imagem e semelhança do Criador. Possuímos
garras afiadas para capturar com facilidade uma presa, um magnífico par de asas
para deslizar pelo espaço, uma boca bem formada e com centenas de dentes
afiados, nossos corpos aerodinâmicos são revestidos de uma linda couraça. Para
coroar esta obra prima da criação, somos dotados de um sopro mortal,
literalmente expelimos fogo.
         Em
nossa ampla caverna somos três, os últimos exemplares da divina raça dos
homens. Hoje voaremos para longe desta aberração chamada dragão. Estou velho,
setecentos verões passaram por mim. Minha idosa companheira já não procria, na
última ninhada os ovos não vingaram. A toca será abandonada esta noite,
voaremos para o norte. É a hora certa para o esquecimento descer sobre a
história do homem e começar a miserável saga dos dragões.
Gastão Ferreira/2012
          
          

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