O SONHO DE GAYA

         Faz-de-conta
era um mundo imaginário. Gaya sua deusa nutriz, a Natureza personificada, que
ordenou o caos e deu forma a vida planetária. Na solidão da eternidade Gaya
sonhou. Retirou de uma negra caixa muitas figuras, personagens de suas
fantasias.
         Catou
o pó das estrelas, forjou um imenso globo girando em torno de um sol
vivificante. Conhecedora dos elementos associou dois átomos de hidrogênio a um
de oxigênio e criou a água, assim começou a vida e a estranha história de
Faz-de-conta.
         Quando
um macaco desceu do alto das árvores e descobriu a planície, Gaya sonhou o
homem. Retirou de sua caixa os reis, os soldados, os feiticeiros, a multidão
dos pobres, os poucos nobres e cada personagem vinha com seu próprio destino já
traçado.
         No
início eram demônios sedentos de poder, depois heróis a procura de um destino
glorioso, homens comuns cultivando campos e alimentando multidões. Sacerdotes
queimando incenso na compra do divino, guerras devastadoras, incêndios,
calamidades… Gaya acordou! Fora um sonho que se transformara em pesadelo.
Destruiu sua criação, abandonou Faz-de-conta e se refugiou no universo
infinito.
         O
que Gaya nunca imaginou foi que alguns humanos sobreviveram em cavernas sombrias,
descobriram como se reproduzir e recriaram o sonho de Gaya.
         Muitos
séculos se passaram, os homens eram persistentes, criaram cidades, fundaram
reinos, formaram nações. Com muita paciência desvendaram os segredos da vida,
inventaram máquinas, dominaram a tecnologia, conquistaram as estrelas e se
apossaram dos céus.
         A
nave espacial pousou silenciosamente em um verdejante planeta nos confins da
bilionésima galáxia visitada. Os instrumentos indicaram vida inteligente. A
mulher de formas perfeitas, jovem, dormia em um abandono de silêncios, quando
acordou era refém de autômatos dos quais ignorava o controle. Estava presa
dentro de um globo de energias desconhecidas.
         A
espaçonave retornou a Faz-de-conta, Gaya reconheceu sua própria criação. Levada
a presença das autoridades, passou fome, sede e frio. Desconhecia a linguagem
dos captores e levou tempo a aprendê-la. Contou em minúcias a sua história, na
qual não acreditaram; – Era uma espiã de um mundo desconhecido, uma provável
inimiga… Foi torturada.
         Acorrentada
nos porões do palácio imperial, reconheceu que os homens fugiram de seu
controle, transformaram-se em deuses e que ela era apenas mais uma entre
milhares de seus iguais que andavam entre as estrelas do céu… Nesse instante
entre a descoberta e o espanto, Gaya chorou! Nunca mais estaria só.
Gastão Ferreira/2012
        

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