O PALHAÇO FUMAÇA

         O
netinho estava completando quatro anos de vida e a vovó resolveu caprichar na
festança. Contratou um famoso pintor que encheu as paredes do salão com
desenhos infantis, animais exóticos e bichinhos do nosso folclore. Guloseimas
da cidade grande misturavam-se aos pitéus caiçaras. Uma quituteira renomada fez
os doces e salgados, muito suco e refrigerantes para os amiguinhos do infante.
Música e brincadeiras para a molecadinha presente.
         Os
convidados escolhidos a dedo, nada de filho de pobre, somente os herdeiros da
elite e seus papais. O prefeito com a esposa, alguns empresários, profissionais
liberais e a velha nobreza da Princesa do Litoral. Uma festa para ninguém por
defeito, um acontecimento para ser lembrado e comentado.
         No pátio
um conjunto tocava música antiga, as madames faziam cara de nuvem e sorrateiramente
escondiam nas bolsas, as sobras das diferentes iguarias vindas da cidade
grande. Os senhores da sociedade provavam de um uísque importado,
complementando a cachaçada com muita cerveja, muita caipirinha, e, muita
conversa de alto nível, tipo; – “Você soube da última?”
         Na hora dos
parabéns reuniram os convidados, os filhotes, os serviçais e as babás no salão
todo enfeitado com balões, onde um imenso bolo dava água na boca, só de olhar.
Pais e mães encantados com a fina educação de seus rebentos faziam de conta que
os filhos nem eram seus, tamanha era a algazarra no recinto. A vovó
patrocinadora da festança fez um pequeno discurso e informou a petizada da
contratação de um famoso palhaço para alegrar os convivas.
         As
crianças se agruparam no fundo do salão, os pais na porta de entrada. Entre um
grupo e o outro, os doces e o bolo de aniversário. As luzes foram apagadas e o
som de uma bandinha preparava o ambiente para a entrada do Palhaço Fumaça…
Tcham… Tcham e começam os efeitos especiais. Os miúdos de olhos
arregalados… Nuvens de fumaça colorida saem pela porta de um quartinho anexo
ao salão, bombas com estrelinhas de papel prateado explodem no ar… Os
infantes apavorados se juntam trêmulos e um vulto com uma capa negra pula do
quartinho em direção aos pivetes, dando um grande grito; – “Palhaço Fumaça se
apresentando!” e retira de supetão a capa negra. Foi o famoso estouro da
boiada. As crianças apavoradas e aos berros correram para os pais, derrubando
os salgados e doces, caso um anônimo não tivesse segurado o bolo a tempo, o mesmo
teria se esborrachado no chão… As luzes foram acesas e dava dó de ver a cara
do Palhaço Fumaça que fora confundido com um monstro.
         Passado
o susto, o show recomeçou. No final deu tudo certo, pois criança é criança e
adora uma folia, jamais vou esquecer o Palhaço Fumaça e do acesso de riso que
tive ao presenciar o ocorrido… Vida longa ao excelente Palhaço Fumaça.
Gastão Ferreira/2011           

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