O MENINO QUE ROUBOU A LUA…

         Quando
o mundo era novo e os animais falavam, tudo era diferente. Se alguém fosse
comer uma fruta venenosa, sempre aparecia um pássaro e avisava; – Não coma! Não
coma!
         Jupirí
era um curumim, vivia numa grande tribo, seu pai era um guerreiro famoso. Uma
noite Jupirí em companhia de seu melhor amigo, a grande onça preta chamada
Jaguar foi passear na floresta. Parou a beira de um pequeno lago, notou que a
Lua dormia numa poça de água. Pegou uma folha de bananeira e lentamente envolveu
a sonolenta Lua. Escondeu dentro de sua oca.
         Os
primeiros que notaram a ausência da Lua foram os macacos. Preocupados saíram a
sua procura, pularam de galho em galho, vasculharam a grande floresta e não a
encontraram. As estrelas sentiram falta de sua irmã e lá do alto espiavam
aflitas por sobre a terra; – “Quem sabe foi o dia que roubou a Lua! Vamos
perguntar ao Sol.”
         As
estrelas não podiam conversar com o Sol, pois sempre que ele surgia elas
estavam a dormir. Na aldeia de Jupirí os índios também sentiam falta da Lua.
Não podiam sair à noite na escuridão total. O mar estava preocupado, sem a Lua
não ocorriam às marés e sem as marés o mar era igual a um imenso lago.
         Os
animais não mais namoravam, era a Lua que espalhava no ar uma vontade de ter filhos,
de perpetuar a espécie, sem ela só pensavam em comer e dormir. Uma tristeza!
Nem um filhote para cuidar. Até as flores sentiam a falta da Lua, os insetos
noturnos perdiam o rumo, não encontravam as flores e sem polimerização, nada de
frutos.
         Jupirí
não saia mais de dentro da oca, passava horas espiando a Lua. Como era linda!
Mudava de cor. Uma hora era branca como leite, outra hora era prateada e vez ou
outra vermelha. A Lua parecia sonhar. Sonhava com coisas que Jupirí nem
imaginava que existissem. Sonhava com homens negros que moravam em cavernas no
outro lado do mundo, com grandes montanhas que vomitavam fogo, com cidades
feitas de pedras e pessoas que navegavam por águas desconhecidas, com sereias,
iaras e deuses que manipulavam raios e trovões.
         Um
dia o Sol notou a ausência da Lua, eles sempre conversavam quando ele surgia e
fazia um bom tempo que não a avistava. Perguntou aos animais das florestas, as
árvores, aos riachos, as nuvens, aos rios e ao mar… Nada! A Lua sumiu sem
deixar pistas; – “Alguém roubou a Lua! Quem foi?” indagava o Sol por sobre a
terra… Ninguém respondia.
         O
Sol ficou muito brabo, começou a esquentar, esquentar. O lago começou a secar,
as matas queimavam, as pessoas não saiam de casa; – “Devolvam a Lua!” gritava o
Sol.
        
‘Eu sei quem roubou a lua’, disse um pequeno e triste laguinho insignificante,
perdido na grande floresta. ”Quem foi?” perguntou o Sol…
        
“Foi Jupirí, um curumim da tribo dos homens e estava acompanhado da grade onça
negra” informou o laguinho.
         O
Sol foi até a aldeia de Jupirí e perguntou pela Lua, o Jaguar falou que não
sabia de nada.
        
“Mentira! Você estava com o curumim quando ele roubou a Lua.” disse o Sol. O
Jaguar não tinha mais como negar e contou ao Sol que depois do roubo Jupirí não
saíra de dentro da oca e que estava branco feito fantasma.
         O
Sol chamou Jupirí e pegou de volta a Lua, não abriu a folha da bananeira porque
a Lua talvez desmaiasse com o seu brilho intenso. O Sol foi subindo, subindo e
colocou a Lua bem no alto, num lugar inacessível para os homens e animais.
Voltou e reuniu todos os animais e decretou; – “Daqui para frente nenhum animal
vai entender a linguagem de outro animal e Jupirí continuará branco como a Lua,
ele não pertence mais a tribo, vai comigo para um lugar muito longe, um lugar do
outro lado do mundo e de lá uma raça de homens brancos se espalhará pela
terra.”
         Desde
então o homem branco é apaixonado pela Lua. É a herança que herdamos de Jupirí,
nosso ancestral, o menino que roubou a Lua.
Gastão Ferreira/2012
        

Deixe um comentario

Livro em Destaque

Categorias de Livros

Newsletter

Certifique-se de não perder nada!