O ETERNO PRESENTE…

         Quando ganhei
aquele brinde, não pensei que tal mimo passaria a ser conhecido como; – “O
eterno presente”. Existem pessoas que dão presentes como forma de retribuir uma
bela amizade, gente que presenteiam por saber das necessidades alheias. O que
eu não sabia é que alguém pode usar um donativo como fonte de humilhação.
         Tudo
começou quando me apelidaram “Do pastel”, estranhei… Uma cerveja, mais outra,
mais outra e todos os segredos são revelados; – “Você não tem vergonha de se
aproveitar de uma velha amizade? Que coisa feia! Como você tem coragem de
magoar a sua amiga Dona Fulana? Que tirou o pão da boca para te dar uma máquina
de fazer pastel, um presente comprado em São Paulo e pelo qual chegou a passar
privações para pagá-lo a vista.”
         Humilhado
eu contava a minha versão da história; – Quando Dona Fulana falou que gostaria
de dar-me um bom presente como forma de retribuir uma amizade sincera, como sou
um cara de pau, perguntei o valor que pretendia gastar com o donativo… “No
máximo três mil Reais”, ela informou… Quero uma máquina de fazer massa, assim
poderei montar um novo negócio… Quinze dias depois a máquina estava entregue,
custara menos do que setecentos Reais. Para quem estava predisposta a gastar
três mil, uma economia de dois mil e trezentos Reais. Que bom que custou
barato! Minha amiga ficará feliz e eu também, pensei.
         O que eu
não previ é que a máquina não fazia milagre, fazia massa… Para produzir o tal
pastel tinha que comprar uma vitrine com aquecedor, tacho, escumadeira,
plásticos especiais para conservação, contratar alguém para lidar com a dita
cuja e uma série de outros itens os quais não poderia adquirir no momento. O
tempo foi passando e a máquina acabou não sendo utilizada. Pegaria mal devolver
o presente, afinal era mimo especial de quem se dizia amiga… Pensei restituir
em dinheiro o valor da máquina… A pessoa poderia ficar magoada… Que dilema!
         Quinze
anos se passaram e Dona Fulana jamais se esqueceu do único presente “caríssimo”
que deu na vida… A cada nova amizade conta a história da máquina de pastel…
Tenho sorte de Dona Fulana não fazer amizades com facilidade, pois de cada nova
amizade vem à cobrança; – “Você não tem vergonha de se aproveitar de uma velha
amizade?…”
         Alguns
camaradas, a quem ela vive a comentar sua forma desprendida de tratar os bens
materiais, sua bondade sem limites e a citar como exemplo o que tentou fazer
por mim quando a vida puxou meu tapete e apagou a minha vela, propuseram se
cotizarem e conversar com Dona Fulana, afim de que aplaque suas mágoas, pois é
feio comentar sobre o bem que se faz e que ninguém gosta de ver jogado na cara
os favores recebidos… Bons e verdadeiros amigos! Querem pagar com juros e
correção monetária o valor do brinde, desde que ela esqueça “o eterno presente”
e não se importe de que a notícia sobre o ressarcimento venha a publico, pois
as pessoas, essas que adoram receber presentes de gente bem intencionada, não
sabem realmente qual a secreta intenção que se esconde por trás da gentileza e
precisam aprender que por vezes aceitar um donativo é dever a liberdade ou
passar por constrangimentos.
         Não
falei que era um dilema! Estou envergonhado. Agora serão vários colegas a
contarem de bar em bar como tentaram se unir para aplacar a mágoa de Dona
Fulana e a minha desilusão com presentes dados “de coração”… Acho que aprendi
a lição; – Presente com segundas intenções? Só se for uma passagem para a
China… Só de ida.
Benedito Júnior, “O do pastel”
Gastão Ferreira
Observação; – História verídica ocorrida em Iguape em
1997 e ainda rendendo notícia – Moral da História – “Tem gente que dá com o
coração e tira com a língua.”

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