O CONTADOR DE HISTÓRIAS

            A cidade como ponto referencial é deslumbrante. Cercada
de rios, montanhas e mar. Pássaros multicoloridos em bandos enfeitam os céus.
Manhãs luminosas e tardes serenas completam o cenário. A natureza em seus
múltiplos aspectos forma ali um cantinho do paraíso. Mas esse local único
também esconde seus segredos.
            O contador de histórias conhece cada habitante da velha
cidade e muitos vêm a ele contar suas próprias histórias ou histórias de outras
histórias para que ele escreva sobre elas, pois assim não se tornarão histórias
perdidas e vazias.
            Ouvindo histórias o contador de histórias cria as suas.
Velhos heróis esquecidos, piratas, bandoleiros, coronéis, lobisomens, rufiões,
parasitas, crentes, ateus e a toas. Cria personagens de tragédias, dramas e
comédias, intérpretes das múltiplas nuancem que escondem a alma humana. O
contador reinventa as histórias e somente conta a mesma história desde que o
mundo é mundo de diferentes formas.
            A personagem é uma só:- O homem! O ser humano e suas
máscaras, a do amigo, a do egoísta, a do insensível, loquaz ou mudo. A máscara
da inveja, do ciúme, do ódio. Da bondade e da avareza. A máscara do sem
caráter, do orgulhoso, do traidor, do vendido, do insensato, do feliz, do
realizado, do incompreendido e mal amado.
            Muitos vestem as máscaras e culpa o contador de
histórias, poucos reconhecem que o contador apenas narra um fato e que a
máscara sempre esteve ali escondida ou escandalosamente visível, serena,
impassível e fria na face do personagem.
            É mais cômodo denegrir, odiar, vilipendiar o contador de
histórias do que aceitar a própria máscara e tentar mudar para melhor. Assim
caminha a humanidade e continuará a caminhar, e o contador de história
continuará sua trajetória, hora aplaudido, hora vaiado, hora hostilizado. É o
que sabe fazer:- Contar histórias!
            As pessoas não diferenciam a realidade do mito e fogem de
sua verdade interior vestindo personagens que são puro fruto da imaginação de
quem conta a história. Assim é a vida, assim nos medimos e todos nos igualamos
na morte, esta sim, a grande vencedora no final de todas as histórias.
Gastão Ferreira- Um
contador de histórias.

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