O BOM LADRÃO

                A Semana Santa passou. A Via Sacra ao vivo e a cores
reuniu milhares de pessoas no entorno da Praça da Basílica. Nenhum ator morreu
de Dengue e a vida continua linda e faceira na Princesinha do Litoral Sul. O
que chamou a minha atenção foi o Dimas, o personagem crucificado ao lado
direito do ator principal. Dimas era um ladrão!
            A imaginação voou no tempo e fiquei a matutar; – Que será
que o tal do Dimas roubava? Roubava os turistas que visitavam a Cidade Santa de
Jerusalém?Roubava a bolsa dos comerciantes? Aos que traziam mercadorias através
das caravanas?Assaltava as garotas da melhor idade da época? Se bem que
naqueles tempos os bois tinham nomes, velha era velha, jovem era jovem e
criança era criança. Nada de rodeios para esconder a realidade que está na
cara, até mesmo nas caras plastificadas.
            Pelo jeito, essa coisa de roubar é tão antiga quanto o
mundo. Duvido que aquele antropóide do qual descenda o homem ancestral, não
passava a mão em bananas que não eram suas. E o Caim? O sujeito era um mau
caráter, alem do ciúme doentio pelo irmão, talvez afanasse Abel nas horas em
que não estava planejando assassiná-lo.
            Desde o colo materno aprendemos que roubar é feio. Que
quem comete esse delito pode ser preso se não tiver um padrinho poderoso ou
contar com um advogado porta-de-cadeia, experto e pilantra. Que quem rouba não
vai para o céu, em fim; – Roubar é pecado e pecado mortal. Aprendemos desde
criança que quem se apodera do que não é seu, está agindo errado. Que quem
rouba o que foi conquistado com o suor alheio, não serve de bom exemplo para
ninguém, a não ser para outro ladrão.
            Minha fértil imaginação, ao vivo e a cores, constatou que
o ator principal, um Santo em todos os sentidos, foi pregado na cruz ao lado de
dois ladrões. Poderia ser ao lado de dois assassinos, dois políticos corruptos,
pois essa sub-raça também é bem antiga, ou, junto a dois terroristas palestinos.
Que coisa feia! Três cruzes e dois ladrões. Quem diria! Mais da metade dos
crucificados eram ladrões. O Dimas, era um safado de um ladrão pego com as mãos
na botija. Tão ladrão que isso foi comprovado pela justiça da época, a qual o
sentenciou a morte.
            A minha dúvida é por que Dimas é chamado de Bom Ladrão?
Será que roubava dos ricos para dar aos pobres? Se roubar é pecado mortal,
então não existe bom ladrão. Dimas era um comprovado ladrão, e, seguindo a
lógica, Dimas não poderia ser bom.
            Imagino o que os leitores estão pensando; -“ Seu burro! Dimas
é chamado de Bom Ladrão porque se arrependeu e foi perdoado.”Poxa! Que bacana.
Então o negócio é roubar tanto quanto seja possível, arrepender-se a beira da
morte e tudo bem? Ninguém necessita devolver o furto, ressarcir o prejuízo
causado, pedir perdão aos lesados… Que beleza! É por isso que o mundo está
infestado de larápios, gente tirando proveito de tudo. Todos bons ladrões…
Todos sonhando com o Paraíso e eu me policiando para continuar honesto! Viva o
Dimas!
Gastão Ferreira/2011

Deixe um comentario

Livro em Destaque

Categorias de Livros

Newsletter

Certifique-se de não perder nada!