BOM SAMARITANO… “É A MÃE!”

         Dona
Myrriam era uma alma de escol e também de Itaipava, Kaiser e Boêmia… Era uma
abstêmia. Seu Nicolau, o marido, conhecido como “O Bom Samaritano” era um santo
em carne e osso, mais osso do que carne devido a um regime alimentar severo e
caro.
         O santo
casal defendia tudo o que respirasse… “Vivemos num ecossistema e devemos
respeitar todas as criaturas criadas por Tupã, menos o Pernilongo da Dengue que
picou Myrriam quando num gesto de bravura socorreu uma ratazana grávida em
trabalho de parto na margem do Valo Grande.” afirmava seu Lalau.
         Tiozinho
Nicolau vivia penalizado com a situação dos cães sem donos que vagavam pelas
ruas da cidade, com os cavalos que pastavam em logradouros públicos e ajudavam
a municipalidade na limpeza das calçadas, com os gatos que vagavam pela Orla do
Mangue e principalmente com os pedintes sem tetos que infestavam o centro da
cidade.
         Os sem
moradia fixa eram seres desconhecidos, chegavam sorrateiramente de algum lugar
também ignorado e se apossavam de praças, calçadas, frente de comercio e outros
locais públicos… Eram intocáveis! Podiam fazer nhéconhéco em banco de jardim,
defecar na rua, achacar passantes, falar palavrão, ofender qualquer cidadão,
possuíam todos os direitos e nenhum dever de civilidade para com a população em
geral. Não eram maus, alguns guardavam carros. Todos contavam a mesma lenga-lenga;
– “Eu podia estar roubando, eu podia estar assaltando, eu podia estar me
prostituindo… Só estou pedindo uma “Reau” para matar a fome.”  
         Pai
Nicolau apiedou-se dos pedintes. Seres humanos que optaram por nada terem de
seu, simples como os Lírios do Campo, inocentes como a Bela Adormecida a espera
de um beijo salvador… Conversou com a esposa a respeito do assunto e
resolveram contribuir para a salvação de tantas almas carentes de amor, de
afeto, de carinho, de futuro. Criaram até uma frase de efeito “We Love Beggars”…
“Nós amamos os mendigos”… Um compositor e poeta fez alguns versinhos sobre o
tema… Um sucesso que foi musicado em um Sarau Literário na cidade, por um
excelente arranjador e violeiro.
         A Dengue
deixou sequelas em dona Myrriam, não era mais aquela exuberante dondoca capaz
de escalar montanhas, navegar pelos canais do Mar Pequeno estapeando muriçocas,
mergulhar da Passarela, tomar banho nua na Fonte do Senhor… Resolveram mudar
para uma cidade com mais recursos na área da saúde. Permitiram que alguns sem
teto ficassem morando em sua bela casa que ficaria fechada na ausência do
simpático casal. “O exemplo nasce em casa”, diziam… “Então vamos
exemplificar!”
         Tiozinho
Nicolau voltou à cidade após cinco meses e foi vistoriar a casa deixada em
comodato aos sem tetos… Que horror! Sem portas, sem janelas, sem fiação
elétrica e sem encanamentos, sem móveis e sem telhas… Apenas quatro paredes.
Quase teve um saricotico! Procurou seus amigos sem moradia fixa e exigiu explicações;
– “Nóis vendeu para comprar comida… Nóis podia tá roubando, assaltando, se
prostituindo… Nóis é muito honesto, vendemo pra pude comê! Qual a bronca
tiozinho?”
         Seu
Nicolau virou uma Arara, um Porco-espinho, um Baiacu, um bicho sem nome e esta
curtindo na pele a perda da casa… Ao ser chamado de “Bom Samaritano”, agora
responde nervozinho; – “ É a mãe!”
         Vivendo
e aprendendo… Qual a moral da história? Não sei!
Gastão Ferreira/2013 

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