NINA NENÊ

            Nina Nenê era pobre. De uma pobreza moral extrema. Vivia
do corpo e para o corpo. Alma vazia preenchida com festinhas. Não olhava
ninguém nos olhos, pois acreditava ser o comportamento correto para uma
representante da elite.
            Nina era na verdade uma garota insuportável. Medíocre e
burra sem uma gota de semancol. Com caras e bundas abria seu espaço se achando
o máximo e desdenhando os semelhantes.
            Moralmente os iguais se atraem e Nina cativou com seu
desdém um grupo afim. Descobriu as vantagens de engambelar os outros, tirar
partido da carência dos excluídos. Viver de aparência e se exibir a custa do
suor alheio.
            Pela primeira vez na vida Nina andou de avião. Desfrutou
de um hotel sete estrelas. Pela primeira vez comeu caviar e bebeu o verdadeiro
champanha francês. Curtiu com tudo o que tem direito um iate e se esbaldou em
festinhas particulares.
            Nina ofuscada pelo brilho passageiro e amoral dos que se
julgam donos de cofres que não lhes pertencem tudo fotografava. Tinha que
provar as amigas e familiares que as incríveis histórias que contava eram verdadeiras.
Que era possível desfrutar dos prazeres do mundo a custa do sofrimento alheio.
Tinha que mostrar que ela chegara lá. Que agora também fazia parte do mundinho
obscuro onde à retaliação, a desonestidade e a ganância comandam. 
            O álbum fotográfico de Nina foi roubado e suas fotos
estampadas em uma revista famosa. Ali estava a prova das coisas apenas
murmuradas e negadas. Nina foi defenestrada e teve que voltar à sua vida
medíocre de caras e bundas, mas após provar o gosto da arrogância e da
prepotência com certeza ficou um pouquinho pior… Nina Nenê!
Gastão Ferreira
Obs.- Crônica bobinha.
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Um pobre sempre pode
progredir, mas pobre de espírito só retrocede.

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