NESTE NATAL

            Neste Natal quero esquecer o Papai Noel das promoções,
das ceias fartas e gordurosas, dos presentes embrulhados em afetos
interessados. Não quero o Noel das lojas enfeitadas para atrair consumidores,
do celofane brilhante das cestas de artigos desnecessários, das bebidas que
afogam tristezas rotuladas de alegrias.
            Neste Natal dispenso abraços ensaiados e sorrisos sob
medida, sentimentos falsos e emoções que encobrem a aridez do coração. Não
quero presentes dos ausentes, não quero essa troca de produtos entre mãos que
não se abrem para a solidariedade e a compaixão. Não quero bocas pronunciando
palavras decoradas, despidas de verdade e afeto.
            Neste Natal não me interessa as promessas falsas dos
políticos, os cartões impressos a granel, cheios de coloridos e vazios de
originalidade. Não quero a companhia de pessoas amargas, das invejas que me
afastam de mim mesmo, das ambições que me entristecem. Não deixarei o pouco que
me resta de sensatez resvalar para o constrangimento, não aceitarei brindes de
mãos que não se tocam, nem irei às ceias dos que se devoram entre ciúmes
ridículos e ostentação.
            Neste Natal quero estar junto ao aniversariante. Não
viajarei para longe de mim mesmo nem rezarei pela bíblia dos que professam o medo,
dos que humilham os semelhantes, dos que semeiam ódios e discórdias. Deixarei
que as águas do mar lavem a minha alma e pedirei que o menino cresça em meu
coração despregado da cruz. Que seus ensinamentos floresçam sobre a pedra bruta
do meu ser e me transformem numa pessoa melhor.
            Pedirei ao menino que abra a mente de nossos governantes
para o bem coletivo, que as pessoas possam ter o suficiente para uma vida
digna, que as crianças tenham amor ao estudo, que os adolescentes tenham um
futuro promissor, que o lar volte a ser um ninho de afeto e aprendizado,
formando cidadãos responsáveis e honestos. Que a vinda do menino seja uma
benção e que todos possam beber dos seus ensinamentos.
            Quero que neste Natal não falte comida na mesa do mais
pobre, que o nobre não dissipe em uma noite o que mataria a fome de muitos, que
o desonesto ao mimosear os filhos pense nos filhos de suas vítimas sem a
possibilidade de presentes. Que a humanidade faça a lição de casa ensinada pelo
menino:- “Ama ao teu próximo como a ti mesmo.”
            Quem ama ao seu semelhante, ama a si mesmo e não mata,
não corrompe, não destrói a Natureza sua fonte de alimentação, não polui a água
que lhe dá o peixe, não joga lixo na rua que é um bem comum, não maltrata os
animais nossos irmãos no existir. Quem ama vê em cada semelhante um irmão em
diferentes estágios de evolução. Quem ama tem compaixão pela dor alheia e busca
auxiliar a todos os seres nessa jornada planetária. Um dia despertarão no outro
lado da vida, as máscaras ficarão aqui. Lá o menino é o rei e dará a cada um de
nós a paga pelo que plantamos. Desejo a todos uma boa semeadura e uma ótima
colheita.
Gastão Ferreira
           
             

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