O HOMEM QUE VIU O FUTURO
                                                      
Inacreditável…
Fantástico… um espetáculo inesquecível. Venham todos, melhor do que a Monga da
festa de agosto. Melhor do que caldinho de manjuba… É o Mago Katram. O maior tele
pata de todos os tempos, o único com poderes para desvendar agora e já o seu
futuro. Não percam no grande circo. Hoje à noite. Única apresentação.
A população
estava inquieta, e, em todos os bares, praças e esquinas, o comentário era o
mesmo. Quem seria Katram? Alguns acreditavam que era um avatar da tia Kalafi.
Outros afirmaram que era um mero farsante a serviço das “forças ocultas” que
dificultavam o progresso da nossa bela cidade. Um enganador. Um embusteiro.
À noitinha o
majestoso circo estava lotado. Todos ávidos e curiosos. Damas e cavalheiros, gatos
e gatas de rua, torrados e sóbrios, políticos e apolíticos, a plebe e o clero,
civis e militares, loiros e negrões, o joio e o trigo (opa! Esses não). Enfim
nosso povão estava bem representado, tinha de todos um pouco. Apagaram-se as
luzes na hora certa. Não houve atraso, não teve discurso nem foguete. Nem
tapinhas nas costas e furtivas tentativas de descolar um voto para as próximas.
Era como se estivéssemos em outra cidade, talvez Ilha Comprida. Sei lá!
Um aparecido
da vida tentou imitar um galo cantando, no que imediatamente foi retirado do
recinto, não sem antes levar uma centena de tabefes para aprender a ter
educação. No escuro ninguém viu quem bateu ou quem apanhou. Só se ouviam os
gritos.
Alguém vaiou
alguém. Alguém denegriu alguém. Era uma “Iguape no escuro” geral. Ficou nesse
xinga xinga até que uma límpida e possante voz, ecoou: – Calados! Hoje seus
segredos serão revelados!
O povão gelou.
O povinho se encolheu. Os pitos queiros tremeram. Os traídos e traidores se
apavoraram. Rabos presos e rabos soltos se arrependeram de estar no local.
Seria uma carnificina moral, os segredos seriam revelados. Meu Bonje! Socorro!
Um foco
iluminou a figura do mago Katram. Com sua capa de mago, seu turbante de mago e
sua cara de mago. Uma bola de cristal azul estava colocada a sua frente e ele
falou: – Vou responder as perguntas. Comecem a questionar!
Uma menininha,
Patrícia (Paty) perguntou se o atual namorado era um príncipe encantado…
sonoras gargalhadas. Alguém que ficou no escuro indagou se seria um dos nove semideuses
do próximo olimpo… levou vaias
Foram centenas
de perguntas, até que um desconhecido inquiriu sobre nosso futuro. Qual o nosso
futuro? Qual o nosso futuro?
O mago olhou
bem nos olhos do desconhecido. Na verdade olhou dentro dos olhos de todos os
presentes. Ele apanhou a bola de cristal e foi se afastando do foco de luz,
calado e enigmático. Não deu resposta. O que será que ele viu?
GASTÃO
FERREIRA/IGUAPE/2007

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