AS CARAVELAS VOLTARAM
Ano de 1540. A
noticia correu rápido, feito um rastilho de pólvora. Seu Benedictus, vulgo
Dictinho, que passarinhava lá pros lado do Morro do Espia, avistara alguma
coisa no mar. Seriam piratas?
noticia correu rápido, feito um rastilho de pólvora. Seu Benedictus, vulgo
Dictinho, que passarinhava lá pros lado do Morro do Espia, avistara alguma
coisa no mar. Seriam piratas?
O populacho
assustou-se, os piratas eram uma praga. Chegavam de mansinho, conquistavam a
plebe vil com conversinhas fiadas, e quando detinham a confiança da maioria,
chamavam os companheiros e saqueavam o povoado. Ou simplesmente aportavam seus
navios e roubavam o que queriam.
assustou-se, os piratas eram uma praga. Chegavam de mansinho, conquistavam a
plebe vil com conversinhas fiadas, e quando detinham a confiança da maioria,
chamavam os companheiros e saqueavam o povoado. Ou simplesmente aportavam seus
navios e roubavam o que queriam.
Os mandatários
temerosos por seus tesouros armaram um pequeno grupo de brancos, negões e
mestiços e, foram o pequeno grupo é claro, não os mandatários, observar os
bucaneiros.
temerosos por seus tesouros armaram um pequeno grupo de brancos, negões e
mestiços e, foram o pequeno grupo é claro, não os mandatários, observar os
bucaneiros.
Alguns índios
remanescentes de uma antiga tribo da região conhecida como os “Joios” por vira
e mexe tentarem se misturarem com os brancos e negrões, faziam sua festa anual
em Maratayama, chamada Monaracy, o que significada em língua de gente, mais ou
menos: – “Nem te fede nem te cheira”, tais indígenas não queriam que os brancos
e seus companheiros passassem por seu território. Após um longo tiroteio e
flechadas, chegaram a um acordo, cobraram um pequeno pedágio (notem como é
antigo o costume), e deixaram os curiosos brancos, negrões e mestiços chegarem à
beira mar.
remanescentes de uma antiga tribo da região conhecida como os “Joios” por vira
e mexe tentarem se misturarem com os brancos e negrões, faziam sua festa anual
em Maratayama, chamada Monaracy, o que significada em língua de gente, mais ou
menos: – “Nem te fede nem te cheira”, tais indígenas não queriam que os brancos
e seus companheiros passassem por seu território. Após um longo tiroteio e
flechadas, chegaram a um acordo, cobraram um pequeno pedágio (notem como é
antigo o costume), e deixaram os curiosos brancos, negrões e mestiços chegarem à
beira mar.
Os lusitanos e
afros descendentes observaram que realmente uma caravela estava fundeada frente
à ilha, e mandaram dois mestiços espiar mais de perto e relatar o que ocorria.
Eis o dialogo:
afros descendentes observaram que realmente uma caravela estava fundeada frente
à ilha, e mandaram dois mestiços espiar mais de perto e relatar o que ocorria.
Eis o dialogo:
– Será pá! Que
o enigmático descubridoire está a Voltaire?
o enigmático descubridoire está a Voltaire?
– Será que o
Pedro voltou pá?
Pedro voltou pá?
– Se não for o
Pedro será o Álvares?
Pedro será o Álvares?
– Ou será que
é o Pedro Álvares Ca…
é o Pedro Álvares Ca…
– Cale esta
boca infeliz! Queres ir para a forca? Não sabes que o Pedro Álvares foi para o
outro lado do mundo?
boca infeliz! Queres ir para a forca? Não sabes que o Pedro Álvares foi para o
outro lado do mundo?
– Foi para a
China, Pá?
China, Pá?
– Não! Foi
para o Japão!
para o Japão!
– Para o
Japão, pá?
Japão, pá?
– Sim! Foi enriquecer
em terras estrangeiras e decerto está a Voltaire, deve estar milionário!
Coitados dos mandatários!
em terras estrangeiras e decerto está a Voltaire, deve estar milionário!
Coitados dos mandatários!
– Por quê?
Coitados dos mandatários?
Coitados dos mandatários?
– Claro pá!
Pois sem moedas sonantes já era uma calamidade, quase venceu, imagine agora com
um barco desse tamanho, cheio de oiro. Meu Deus!
Pois sem moedas sonantes já era uma calamidade, quase venceu, imagine agora com
um barco desse tamanho, cheio de oiro. Meu Deus!
– Meu Deus!
Por quê? Pá!
Por quê? Pá!
– É claro que
decidiu comprar o povinho miúdo! Está claro que o porão do barco esta carregado
de dentaduras, odres de pinga e outras cositas que são o regalo da plebe vil, e
pelo que posso deduzir, se baldearão em massa para seus braços.
decidiu comprar o povinho miúdo! Está claro que o porão do barco esta carregado
de dentaduras, odres de pinga e outras cositas que são o regalo da plebe vil, e
pelo que posso deduzir, se baldearão em massa para seus braços.
– Meu Deus!
Estamos fritos! Precisamos avisar nosso dono.
Estamos fritos! Precisamos avisar nosso dono.
Soltaram
alguns rojões (outro costume antigo) e receberam a resposta adequada, mais
rojões (eram os telefonemas da época).
alguns rojões (outro costume antigo) e receberam a resposta adequada, mais
rojões (eram os telefonemas da época).
– O que foi
comunicado, pá?
comunicado, pá?
– Temos que
descobrir se é mesmo o descobridoire, pá!
descobrir se é mesmo o descobridoire, pá!
– Quem? Pedro
Álvares Ca…
Álvares Ca…
– Cale a boca!
– Por que não
posso dizeire o nome todo pá?
posso dizeire o nome todo pá?
– Aqui nessa
ilha tão comprida até as areias têm ouvidos, queres ser degredado?
ilha tão comprida até as areias têm ouvidos, queres ser degredado?
– Eu não, pá!
– Pois então
não digas mais esse nome feio, ou nosso dono te expulsa da vila!
não digas mais esse nome feio, ou nosso dono te expulsa da vila!
– Juro que não
mais repetirei o nefando nome, oh pá!
mais repetirei o nefando nome, oh pá!
– É melhor
mesmo. Pois já esta na lista dos sem cargos!
mesmo. Pois já esta na lista dos sem cargos!
– Eu! Um sem
cargo?
cargo?
– Sim! Estais
na lista negra de nosso dono!
na lista negra de nosso dono!
– Mas que
coisa terrível! Eu nada fiz!
coisa terrível! Eu nada fiz!
– Fizestes
sim, oh pá! Fizestes um comentário jocoso de nossa simpática dona!
sim, oh pá! Fizestes um comentário jocoso de nossa simpática dona!
– Mas o que a
simpática tem a veire com esta história, pá?
simpática tem a veire com esta história, pá?
– Esqueceram
que nosso dono não é lá muito bom de fazeire contas, e quem faz a lista de
execuções e desafetos é a simpática. A única que sabe leire, escreveire e
desenhaire na vila!
que nosso dono não é lá muito bom de fazeire contas, e quem faz a lista de
execuções e desafetos é a simpática. A única que sabe leire, escreveire e
desenhaire na vila!
– Meu Deus!
Serei expulso da vila!
Serei expulso da vila!
– Calma Dudu
Joaquim! Acharemos uma solução.
Joaquim! Acharemos uma solução.
– Que solução
Beto Manuel? Aderir ao descobridor?
Beto Manuel? Aderir ao descobridor?
– Mas Joaquim,
nós já o conhecemos tão bem, sabemos que não é a solução!
nós já o conhecemos tão bem, sabemos que não é a solução!
– Mas nosso
dono também não é a solução!
dono também não é a solução!
– P.Q.P., mas
que M…, hem!
que M…, hem!
– Sem
palavrões, por favoire, Dudu Joaquim!
palavrões, por favoire, Dudu Joaquim!
– Beto Manuel!
Vamos falar com o que multa embarcações!
Vamos falar com o que multa embarcações!
– Qual? O que
não deixa derrubaire arvore?
não deixa derrubaire arvore?
– Sim! Também
esta no páreo!
esta no páreo!
– Nossa terra
é rica pá! Todos querem tirar uma casquinha…
é rica pá! Todos querem tirar uma casquinha…
– Olha pá! É
melhor deixaire a caravela aportaire, e ver o que acontece, afinal
melhor deixaire a caravela aportaire, e ver o que acontece, afinal
Não somos nem brancos nem negrões, somos
mulatos…
mulatos…
– Vamos avisar
aos brancos e negrões que o Pedro Álvares esta de volta?
aos brancos e negrões que o Pedro Álvares esta de volta?
– Não precisa
pá! Eles já adivinharam.
pá! Eles já adivinharam.
– Como sabes?
– Preste
atenção! Os foguetes estão a contaire!
atenção! Os foguetes estão a contaire!
– Ah!
– Pum… Puum…
Pãããng… Puuum… Puum…
Pãããng… Puuum… Puum…
GASTÃO
FERREIRA/IGUAPE/2007
FERREIRA/IGUAPE/2007
Gastão Ferreira começou a publicar seus textos aos 13 anos. Reconhecido por suas crônicas e poesias premiadas, suas peças de teatro alcançaram grandes públicos. Seus textos e obras estão disponíveis online, reunidos neste blog para que todos possam desfrutar de sua vasta e premiada produção.