MEU BONJE… SOCORRO!
            Meu
Bonje! Estou aqui de joelhos frente a vossa imagem porque necessito de auxilio
imediato. Não tem nada a ver com as oferendas monetárias que os romeiros vos
trazem. Nada de empréstimos! É outra coisa que me aflige meu Senhor.
O problema
Senhor… na verdade não é de hoje, mas a batata quente, digo a dificuldade esta
estourando em minhas límpidas mãos. Por favor, Senhor! Não faça esse ar de
mofa! O problema vem de longe…
Estou
sentindo-me solitário, por isso venho a vós como a ovelha desgarrada buscando
conforto e uma luz no fim do túnel. Não! Não estamos pensando em construir um
túnel ligando Iguape a Ilha Comprida, o túnel a que me refiro é essa falta de
otimismo da população.
Sim, meu
Senhor, por mais que mostramos serviço, por mais que nos doamos ao povo, ele
sempre quer mais, exigem coisas impossíveis, tais como segurança, oportunidades
iguais, cidade limpa, saúde de primeiro mundo, essas coisinhas mesquinhas que
um bom cidadão nem ousaria pensar, quanto mais reivindicar.
Imagine Senhor,
que o povão quer emprego, quer trabalhar!… sim! Não querem mais ficar na beira
do Valo vendo a maré subir e baixar. Querem virar consumistas, querem comprar
TV de Plasma, tênis de marca, geladeiras, móveis. Senhor! Onde foi parar a
simplicidade de nossa gente que antes se contentava com dois tijolos, um monte
de gravetos e uma velha panela de barro? Agora querem fogão a gás e panela de
pressão! E se a panela explodir? Que perigo!
Meu Bonje!…
estou me perdendo, divagando, não é nada disso que me aflige, é outra coisa. É
esse sentimento de perda. Já perdemos a marinha, vários estabelecimentos
comerciais e industriais, lojas que fecham, restaurantes que se vão. Escolas
que partem, profissionais que abandonam a cidade. Em vez de progredir senhor,
parece que estamos regredindo!
E tem outra
coisa, o pesadelo voltou. Sim aquele velho pesadelo em que vejo a cidade jogada
às moscas, com bandos de urubus e pedintes na vossa praça sem terem a quem
pedir. Eu sei! Senhor, que é apenas um sonho bobo do menino indefeso que ainda
resta em mim.
Senhor! O que
quero? Afinal! Quantos foguetes já soltei por vós? Claro que conta soltar
foguetes! É também uma forma de oração! Senhor já que não posso me livrar do
pesadelo, eu queria pedir a vós que tudo pode… eu só queria pedir, implorar…
não deixe apagar a luz. Eu… eu… eu… Tenho medo de escuro! Amem.
GASTÃO
FERREIRA/IGUAPE/2007

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