MENDICÂNCIA

            Hoje iniciei uma pesquisa a fim de realizar uma futura reportagem
sobre mendicância. Procurei os mais velhos para compartilhar as memórias do
passado e fomos unânimes, até o início dos anos 90, mendigos em Iguape só em
véspera de festa de agosto. Pelo que lembro tínhamos alguns débeis mentais que
faziam uso dos fundos da basílica, nada pediam, ficavam por ali sentados,
olhando a vida passar e a noite voltavam para suas casas.
            Percebo que esse assunto é delicado, envolve humanismo e
aspectos religiosos, mas a mendicância está a tornar-se um problema crônico em
nossa cidade e é um dos sintomas da decadência que se faz mais visível. As
reclamações dos turistas se juntam a de cidadãos que evitam freqüentar o centro
histórico e assim vamos perdendo um espaço que é nosso. Os pedintes têm todo o
direito de ir e vir e nós não temos o direito básico de não sermos molestados.
O
que se conhece como mendicância não faz jus a esse nome em nossa cidade. Todos
os municípios têm os seus carentes, pessoas destituídas momentaneamente da
possibilidade de se manterem e que recorrem à caridade alheia até superarem
essa má fase. Temos no Brasil os mendigos caminhantes, que são aqueles que
encontramos a margem das rodovias, esses permanecem por dois a três dias em uma
cidade e continuam sua viagem.
 Logo no inicio da pesquisa deparei-me com dois
fatos que desconhecia; – O primeiro foi que a tão famosa desova de mendigos,
pelo menos nos dias atuais é lenda urbana. O segundo fato é que em nossa cidade
na atualidade temos vinte e cinco pessoas que se passam por mendigos e que
desse total apenas três são de fora de nosso município.
            Outro fator que causa constrangimento é que todos os
nossos mendigos são alcoólatras e não querem por vontade própria morarem com
suas famílias. Um problema que tem solução. Basta não vender mais bebidas a
essas pessoas, pois todos os comerciantes os conhecem. Parece complicado e é,
mas não podemos contar com mais ninguém para resolver a questão.
            Depois de constatar esse fato inusitado desisti da
reportagem. Desde que fui expulso aos gritos de um local público, estou
evitando o máximo me expor ao ridículo perante nossa sociedade, assim não me é
dada a oportunidade de saber o que pensam as autoridades constituídas sobre o
tema mendicância.
Gastão Ferreira-03/11/2009

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