MARIAZINHA – HISTÓRIA NADA INFANTIL

            Mariazinha era órfão, uma menininha tão sensível que nem
pernilongo matava, por isso seus bracinhos viviam cheios de hematomas. Também
não assassinava mutucas, baratas, ratos… Uma pequena Buda roceira, um tanto
mimada, um tanto estouvada, um tanto bobinha, mas muito inteligente. Jamais
rasgou uma nota de dinheiro para dar a metade a um pedinte carente.
            Sua madrinha e tia, a bela Cremilda, trucidava a beleza
para dar do bom e melhor a sobrinha. Como trabalhava na zona rural e era
filiada ao Movimento dos Sem Nada, fazia longos discursos para politizar a
criança:- “Mariazinha, meu docinho de atenóia! Nunca desista dos seus sonhos,
não faça como eu que vim parar na zona rural devido a um cafajeste que conheci
num comício. Lute por seus direitos, estude para ser alguém na vida!”
            A menininha enfiava os cinco dedinhos na boca e
respondia:-“ Dinda! Eu vou ser famosa. Eu vou ser modelo… Modelo não precisa
estudar.””Linda da titia! O estudo é a base de tudo, sem estudo a pessoa não é
nada.” Martelava a madrinha.”” Isso era antes, hoje em dia quanto menos estudo
melhor, a gente pode ser até presidente!”Dizia Mariazinha.” Essa menina é muito
inteligente! Tão novinha e já sabe o caminho do cofre, digo da roça… Huuuum!
Vamos aguardar o futuro.”
            Mariazinha cresceu… Cresceu… Cresceu. Parou de
crescer:- “Estou tão feliz! Agora sou uma professora. Uma mestra, alguém para
disseminar o conhecimento, plantar a semente do saber nas mentes infantis, uma
pedagoga… Cheguei lá!”
            Na primeira aula acertaram o apagador no seu rosto, foi
chamada de anta duas vezes, de vaca quatro vezes. Como podem notar os alunos
moravam em sítios, caso habitassem na cidade os apelidos seriam outros. Mariazinha
decepcionou-se:- “Quanto tempo perdido! Essas crianças não querem aprender…
Essas crianças são o futuro! Que futuro elas terão… Oh God!”
            No final do primeiro semestre a professora estava um
traste. Olheiras profundas, as mãos tremiam, tinha dificuldade motora para
chegar até a sala de aula… Um medo… Um pavor… Mal conseguia dormir:-
“Cheguei ao fundo do poço! Onde foram parar os meus sonhos? O meu ideal
conquistado com tanto suor? Hoje é a última aula… Ufa!”
            Mariazinha trancou a porta da sala de aula, agradeceu a
presença de todos, distribuiu as notas, contou entre os risos de deboche dos
alunos sua história de vida, tirou da bolsa uma mini metralhadora e enquanto
teve bala foi disparando, restou apenas um com vida para contar a história.
Está presa, mas sossegada e feliz.
Gastão Ferreira
           

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