LOBISOMEM

                Quando Zeus, o pai dos
deuses e dos homens do panteão mitológico grego, transformou o rei da Arcádia,
Licaon em lobo, surgiu o primeiro Lobisomem         Desde
a era mais remota, a crença nessa metamorfose faz parte da mitologia de todas
as civilizações. Incas, Maias, Astecas, indígenas sul-americanos têm suas
lendas a respeito, porém com pequenas variações. Os colonizadores portugueses
trouxeram consigo o Lobisomem herdado dos gregos e romanos. No período
colonial, muitos desafetos foram mortos pela Besta Fera, quem sabe, uma morte
anunciada ou uma desculpa esfarrapada de um crime não solucionado!
         Na Princesa do Litoral, tão velha
quanto o Brasil, os lendários Lobisomens sempre fizeram a festa. Nos bairros
rurais, até os anos setenta do século passado, tal assunto era secretamente
comentado pelos bares da vida. Os mais antigos sabem das histórias e quando as
contam pedem segredo, pois, caso a narrativa chegue aos ouvidos do suspeito de
virar Bicho, a vingança da fera será maligna.
         No antigo Caminho do Porto, quando
ainda era mal iluminado, muitas pessoas correram o risco de serem atacadas por
um grande cão preto, que da escuridão da noite, do nada, surgia e aumentando de
tamanho apavorava quem por ali passasse. Contam, as lendas urbanas do município,
que um famoso prefeito foi atacado por um Lobisomem e que o valente alcaide
defendeu-se na paulada, quase matando o animal… Foi assim que Durandino foi
desencantado e pelo que se sabe, nunca mais atacou ninguém.
         Durandino, mais conhecido como Bidam, é
a pessoa a quem devemos a existência da belíssima árvore que enfeita a Praça
Independência (Praça situada atrás da Igreja Nossa Senhora do Rosário). Foi,
seu esforço e carinho que a preservou, dizem, que a molecada destruía cada muda
recém plantada. Bidam fez com bambus, um alto cerco em volta da arvorezinha para
evitar o vandalismo, eis à origem do belo círculo em torno do majestoso
Flamboaiã que tanto nos encanta com suas flores vermelhas e ramagem exuberante.
         Em Iguape, existiram muitos suspeitos
de ser o Bicho Fera. Os caçadores de Lobisomem afirmam que o Bicho Fera, só
morre com uma bala de prata bem no coração, pois o danado tem o poder de se regenerar,
e, é imune a todos os venenos conhecidos e desconhecidos. Na atualidade não
existem suspeitos de licantropia no município, aliás, existem suspeitos de
muitas coisinhas, menos de virar lobo. Na história da cidade não consta que
algum cidadão morreu vitimado por uma bala de prata, todos os suspeitos
morreram de morte natural… Muito estranho isso!  Hoje, com a farta iluminação, o contínuo
trânsito de pedestres e veículos em horário noturno, o Lobisomem desapareceu,
dando lugar aos oportunistas que assaltam quem passeia na madrugada.
         Na Iguape de outrora, quando as
famílias se reuniam a luz de lampiões, os mais velhos passavam aos filhos,
nossas lendas, nossos causos, nossa história. Nossa gente continua sendo
contadores natos de belas histórias, as que eu ouço escrevo e guardo como
“lendas urbanas”. Sei com certeza que o Lobisomem fazia parte do mito e também
do receio de tudo que se escondia na escuridão.
Gastão
Ferreira/Iguape/2011

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