LEMBRANÇAS DE MEU PAI!

            Um filho é o espelho do caráter de um homem. Quando a
saudade chega e me abraça murmurando o seu nome, a sua lembrança invade todos
os meus espaços, ouço o seu riso, vejo o brilho do amor em seu olhar antigo…
Meu pai!
            Um homem simples que fez do respeito a seus semelhantes à
base de seu caráter. Um homem honesto na simplicidade de seus pequenos
negócios. Um homem que apenas com um olhar era obedecido, um pai as antigas, um
pai que impunha respeito sem maltratar, um pai que se sabia amado e muito
amava… Meu pai.
            Lembro do dia em que o circo chegou! A velha lona
encobria todos os segredos tão bem guardados, um mundo mágico e desconhecido,
um mundo para ser desvendado por um menino curioso, um menino de onze anos…
Eu!… Vadico. Reuni os amigos, formamos um pelotão, temerosos passamos por
debaixo da lona e silenciosamente invadimos a arquibancada, a primeira batalha
estava ganha e a diversão grátis garantida.
            Meu pai chegou a casa e perguntou por mim, minha mãe
contou do meu intento com os demais colegas, meu pai sabia que eu não tinha o
dinheiro para comprar o ingresso… Saiu em direção ao circo.
            As gargalhadas, os aplausos, os assovios. O palhaço
acabara de entrar no picadeiro, um toque de leve nas minhas costas, era um guarda
e os guardas naquela época eram o temor da garotada:-“ Todos vocês! Venham
comigo.”Na portaria estava meu pai:-“ Vadico! Pegue o seu ingresso e entre pela
frente… Comprei entrada para todos.”
            Esse era meu pai, o homem em quem me espelhei, o
companheiro das horas boas e das horas difíceis. O homem que me ensinou o valor
da honestidade, a importância de uma amizade, a humildade perante a grandeza da
vida. Meu professor, meu anjo protetor, meu abrigo… Meu pai.
            Hoje remo sozinho nessa canoa vida, quando a tristeza
chega e crava suas negras garras em minha alma solitária, meus olhos entrevêem
a imagem de meu pai e uma lágrima solitária teima em brotar arrastando a
memória aos dias da minha infância. Não choro o abandono, pois tudo aqui tem
fim, meu pranto é uma saudade de reencontros, de antever o futuro e nesse
futuro poder abraçar meu velho pai e finalmente junto a seu coração dizer do
quanto o amei.
(Memórias de Vadico sobre
seu pai)
Texto: Gastão Ferreira

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