JUNIOR

            Junior era um garoto esperto. Faminto de conhecimento
tudo queria saber, estava descobrindo o mundo. Neobaldo seu pai passava apuros
para elucidar as dúvidas da criança.
            – Pai! Por que aquele homem está deitado na grama da
praça?
            – Ele é um pedinte, meu filho.
            – O que é um pedinte?
            – Alguém que não trabalha e tem que pedir comida para
sobreviver.
            – Por que ele não trabalha?
            – Porque em nossa cidade não tem trabalho para todos.
            – Mas o seu Tretéco é bem velhinho e carpe terrenos para
ganhar uns trocados!
            – Seu Tretéco tem dignidade e sabe que todo o ser vivo
tem por obrigação ganhar o próprio sustento…
            – Como assim? Pai.
            – O passarinho não fica de la para ca o tempo todo
catando insetos para sobreviver?
            – Fica sim!
            – Ele está trabalhando. Aquele menino seu amigo, o Nildo,
está sempre procurando serviço.
            – É mesmo! O Nildo procura madeira usada, vende para
pizzarias e padarias e sempre tem um dinheirinho.
            – Então! O seu Tretéco e o Nildo têm dignidade e
sobrevivem à custa do próprio esforço.
            – Mas o homem que está deitado na grama quer que as
pessoas lhe dêem as coisas de graça, é isso?
            – Sim! Ele não quer fazer nada e se aproveita do bom
coração dos outros para sobreviver.
            – Pai! É certo isso?
            – Claro que não! Meu filho. Um pedinte é uma pessoa sem
dignidade, um perdedor e talvez um esperto que descobriu que é mais fácil
recorrer a pequenos truques para ganhar o sustento diário do que suar a camisa.
            – Pai! Mas se é errado sair pedindo pela cidade, por que
as pessoas ajudam?
            – Para acalmarem a própria consciência ou por ignorância.
            – Por ignorância? Pai.
            – Sim! Acham que fazendo isso estão prestando uma
caridade e na verdade estão apenas mantendo indefinidamente uma situação de
dependência. Enquanto tiver gente para sustentar esse tipo de pessoas, elas
jamais irão batalhar o próprio sustento.
            – Pai! É errado fazer caridade?
            – Claro que não Junior! Mas caridade não é sair por aí
dando sobras do que se tem. Caridade é auxílio. É tentar sanar uma dificuldade
em definitivo…
            – Não consigo entender!
            – Caridade é resolver uma situação difícil, dar um
trabalho para alguém, ajudar quem não tem realmente como sobreviver devido a
doenças, idade avançada ou abandono.
            – Abandono pai?
            – Crianças muito novas que estão em casas de custódias,
velhinhos doentes em asilos, pais e mães desempregados que momentaneamente
necessitam de socorro.
            -Mas os mendigos não devem ser socorridos?
            – Sim filho! Mas não pelos cidadãos e sim pela
assistência social…
            – Pela assistência social pai?
            – Os mendigos não querem trabalhar, são intocáveis e
podem fazer o que bem entendem em nossa cidade…
            – São que nem os políticos Pai? Intocáveis, não trabalham
e fazem o que bem entendem!
            – Isso mesmo Junior! Os mendigos são os políticos que não
deram certo e talvez seja por isso que são tão protegidos pela lei.
            – Que chato! Meu sonho era ser político e tentar ajudar
nossa cidade, mas tenho medo de virar mendigo…
            – Oh filho! Um político jamais vira mendigo de rua, ele
se transforma em um mendigo moral quando se aproveita da credulidade alheia
para atos ilícitos…
            – Mendigo moral pai! Existe isso?
            – Sim Junior! Quando uma pessoa engana a outra com falsas
promessas, sabendo de antemão que não tem como cumprir o que está prometendo.
Quando ganha um alto salário para fazer um serviço que não faz. Quando se acha
um intocável, um ser superior aos demais… Essa pessoa apesar da posição
privilegiada não passa de um mendigo moral e não serve de bom exemplo para
ninguém.
            – Nossa pai! Eu não quero mais ser político.
            – Calma Junior! Um político imbuído de princípios éticos,
com os pés no chão e vontade real de ajudar é algo grandioso e faz a diferença,
caso no futuro você se transformar em um político espero que seja assim.
            – Com certeza pai! Tendo o senhor para me educar e
ensinar, eu sei que serei uma pessoa honesta, digna e farei a diferença em qualquer
profissão que seguir.
            – Obrigado filho! Agora vamos tomar um sorvete. Você
merece garoto.
Gastão Ferreira

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