JAGUARITIRA (O morro da
Onça)

         Nossa terra é antiga, há quinze mil
anos os formadores de sambaquis andaram neste solo, deixando a marca de sua
presença em dezenas de Ostreiros espalhados por nosso município… Eles
simplesmente desapareceram da história e ninguém sabe se foram absorvidos ou
destruídos pelos diversos povos indígenas que vagavam nômades pela região.
Sabemos da presença dos autóctones pelas diversas urnas funerárias encontradas
nos sítios arqueológicos.

Milhares de ameríndios ocorriam à nossa província
durante a piracema e por aqui moqueavam o pescado. Os Incas nos visitavam
através do Caminho do Peabiru, uma via que ligava os Andes ao Oceano Atlântico,
mais precisamente Cuzco no Peru, ao litoral na altura da Capitania de São
Vicente. Em terras brasileiras era chamada Trilha dos Tupiniquins, um ramal que
saindo de São Vicente, passava por Iguape, Cananéia, seguindo para Santa
Catarina.
Maratayama (Ilha Comprida) e Iguape são habitadas
ininterruptamente há milênios. Nós pisamos neste chão, esquecidos de sua grandiosidade.
Desconhecemos as lendas, as rivalidades, os sonhos e as derrotas. Ignoramos os
ódios, as paixões tecidas na trama dos devaneios dos que aqui amaram e viveram.
Quando espio a pedra em formato de Onça (Jaguaritira),
que sentada na montanha espreita a cidade, meu pensamento voa para aquele
passado longínquo e recrio na imaginação o momento da chegada, a montagem das
ocas, a formação da taba, o bulício dos curiosos curumins em sua primeira
visita ao mar, os cercos as Tainhas, a caça ao Tapir, a Anta, ao Tatu, a
Capivara. A algazarra dos Bugios, os bandos de pássaros sobre o lagamar, a água
cristalina da fonte, as árvores frutíferas, as danças, as festas, os
reencontros.
Nosso solo guarda a memória dos séculos, convivemos
com fantasmas milenares, nossa história é real e se perde nas brumas do tempo.
Não temos noção do sagrado desta terra abençoada, chão cultivado por mão
esquecidas, mas que nos legaram a mandioca, o araçá, a pitanga, o butiá…
Terra de turistas incas, terra das lendas. Generosa mãe que jamais negou o
alimento ao visitante… Mãe rapinada, saqueada, mal amada pelos aproveitadores
sempre a espreita de negociatas, mãe difamada pela ganância de quem devia
protegê-la, mãe sempre perdoando, mãe gentil, nossa Iguape!
Terra dos deuses ancestrais, terra de Tupã, de
Anhangá, do Curupira e Boitatá, lar dos formadores de sambaquis, dos índios
coletores, morada dos senhores de engenho, abrigo dos pescadores caiçaras,
residência do Bom Jesus… Iguape, Princesa do Litoral Sul, no alto da montanha
dorme uma Onça de pedra sonhando com um mundo que desconhecemos; – Teu passado!
Gastão Ferreira/2011

        

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