IZABEL E O LOBISOMEM

            Izabel
mora no Despraiado em casa de taipa, uma tapera caiçara a beira mar, seu pai Juvenal
planta mandioca, rouba uns palmitos e ocasionalmente pesca. É moça letrada
dessas que completaram a quarta série e por isso trabalha na quitanda São
Benedito cujo proprietário senhor Dito é aparentado com Juvenal.
         Essa história meio destrambelhada foi a
própria Izabel, também conhecida como “Zero Bala”, devido ao fato de nunca ter
namorado, quem me contou. Seu pai é um homem rígido que não quer ver a filha de
namoricos e sempre fala:- “Primeiro os estudos e depois o desfrute!”. A garota
conseguiu a duras penas concluir o primeiro grau, o que foi ótimo, pois assim
pode ler a Bíblia para a família que acredita ser a moça quase uma doutora:-
“Nooossa! Como ela consegue juntar tantas letras? Nossa filha é um gênio.”
         A quitanda do Dito, único mercadinho
nas redondezas é o ponto de encontro e desencontro dos moradores do bairro. Desencontro
por causa das brigas de alguns desavergonhados que se aproveitavam do álcool
para ofenderem os desafetos. Encontros porque é ali na humilde mercearia que
rola as fofocas locais.
         Izabel como vocês podem notar é muito
esperta, estudada e um tanto assanhadinha, louca para arrumar um marido e
esquecer a ridícula alcunha de “Zero Bala”. Numa noite de lua cheia atendeu
alguns bêbados até mais tarde. O senhor Dito que também era seu tio se ausentou
devido a uma consulta marcada há cinco meses, pois no município em que eles
moram o atendimento médico é uma calamidade. Outro motivo que levou a garota a
não reclamar por ficar até tão tarde é que estava paquerando as escondidas um
sujeito chamado Josias, que todo o mundo chamava de Jôse, mas ele aparentemente
jamais desconfiou das intenções eróticas da garota sonhadora.
         Quando Izabel fechou a quitanda, a lua
já estava alta, o que ela achou muito bom, pois a claridade iluminava o
caminho. De tanto servir pinga aos bebuns estava um pouco embriagada, nem
tentou defender-se quando foi atacada ferozmente por um animal desconhecido que
rasgou suas roupas e deu uma bela chupada em seu pescoço. Sua sorte foi que no
momento do vamos ver os finalmente, apareceu o seu Dito e acertou uma paulada
bem na cabeça do bicho fera que saiu ganindo igual cachorro, daí a afirmação
que a animália era um lobisomem.
         No dia seguinte na quitanda o alvoroço
foi grande, todos queriam saber os detalhes do sórdido e incomum acontecimento.
Izabel fez questão de contar timtim por timtim o ocorrido, aumentando um pouco
na parte erótica e deixando bem claro que permanecia “zero bala”. A freguesia
espalhou aos quatro ventos a história do lobisomem, Izabel virou notícia.
Josias, vulgo Jôse, desapareceu por alguns dias e quando voltou estava usando
chapéu. Agora lança uns olhares estranhos, igual quem provou um doce de que
gostou e quer mais… Sei não! Sei não!
Gastão
Ferreira   

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