HISTÓRIAS DO FIM DE MUNDO

            Existe uma terra para alem da última fronteira conhecida.
Um lugar esquecido que não consta de nenhum mapa. Um lugar onde tudo pode
acontecer. Um lugar chamado Fim de Mundo…

MARIAZINHA

                A guria foi encontrada ainda bebê sendo amamentada por
uma macaca na orla da grande floresta por dona Benta, a gorda. A mulher era uma
pessoa muito bondosa e honesta, matou a macaca e vendeu o bebezinho para sua
melhor amiga, dona Geny, a santa.
            Dona Geny era mesquinha e intolerante, proprietária da
única casa de tolerância em Fim de Mundo, comprou a menininha com o intuito de
garantir seu plantel… A escolha do nome foi um problemão… Shauana,
Thalulla, Thiusdei, Cristal, etc… Todos nomes de guerra que não colaram
e  a infante foi chamada de Mariazinha.
            Mariazinha era amada, no bom sentido, por todos os
fregueses de madame Geny que já estavam de olho no futuro da moleca. Na hora do
banho faziam fila para espionarem a nudez da criança, pagavam uma nota preta à
babá, que colocava o dinheiro em um cofrinho apelidado pé-de-meia. Mariazinha
conferia o valor de cada cédula, pois não confiava em nenhum dos cafajestes
pedófilos que adoravam ver uma inocente menininha tomando banho pelada.
            Um belo dia o Conselho Tutelar bateu na porta da zona,
uma denúncia não tão anônima, o levou até lá. Um dos muitos manda-chuvas da
localidade não quis pagar pelo programa usufruído e depois de um bate boca
delatou madame Geny às autoridades competentes que também não saiam da casa de
tolerância, mas que nunca notaram a presença de uma criança servindo drinques
nas mesas, a desculpa esfarrapada foi que pensavam que era uma anãzinha.
            Mariazinha foi despachada para a Casa da Criança Feliz,
um abrigo para menores que sofriam maus tratos familiares, queimaduras, torturas,
estupros, surras diárias e “otras cositas mas”. Um mês depois foi retirada, na
calada da noite, da instituição. Ensinou tanta sacanagem para a criançada que a
casa estava virando um prostíbulo. Assim os humanitários e competentes
conselheiros devolveram Mariazinha para a floresta.
            Passou um tempo e um helicóptero pousou em Fim de Mundo.
Dele desceu uma imponente figura. Estava tentando confirmar uma história da
qual ouvira rumores… Um bebê achado na floresta há oito anos. Um caçador
matara um filhote de macaco durante um safári de um milionário e sua família. A
mãe do macaquinho fuzilado raptou o bebê, filha do ricaço, e, fugiu para a
mata. O nababo estava oferecendo uma nota fabulosa a quem encontrasse sua única
herdeira.
            Toda a população de Fim de Mundo participou da busca, não
era pelo dinheiro diziam, era por amor a criança que desaparecera da Casa da
Criança Feliz… Mariazinha. Um cachorro abandonado encontrou a menina na
margem de um pequeno rio, brincando com pedrinhas brilhantes, a garotinha
guardou algumas no bolso e seguiu o cão. A imponente figura colocou o cachorro
sarnento e a menininha no helicóptero, deu adeus à cidade dizendo:-“ Vou levar
o cão para receber a recompensa.”
            Fim de Mundo nunca mais foi à mesma. Passado algum tempo a
floresta foi comprada por gente estranha. Colocaram arame farpado a sua volta,
muitos aviões aterrizaram dentro da mata, homens armados impediam a passagem
pela selva. As pedrinhas com as quais Mariazinha brincava eram diamantes e seu
rico papai comprara as terras. Fim de Mundo, hoje é uma cidade tombada. Parou
no tempo, as velhas casas desabando na espera que Mariazinha retorne ao local
onde foi tão feliz… Mariazinha nunca mais voltou, aliás, seu verdadeiro nome
era Catherine e a única coisa boa que fez por Fim de Mundo foi comprar pelo
menor preço a zona de madame Geny e tocar fogo. O cachorro sarnento, agora
muito pimpão a acompanha em suas viagens pelo planeta.
Gastão Ferreira/2011
Observação:- Este texto é
para exercitar a imaginação. O único animal que possui a capacidade de criar é
o bicho homem.
           

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