O ET E O PESCADOR
O homem
viajava no tempo, sua nave aterrissou no novo portal da bela cidade…
confundira-o com um moderno porto extraterrestre.
Ditinho
avistou o objeto voador não identificado. Recolheu seu currico, certo de que
eram fiscais de pesca a fim de multá-lo. Estava pronto para mil desculpas
esfarrapadas, quando foi abordado pelo piloto da aeronave:
– Saudações!…
habitante do passado. Posso saber o nome dessa localidade?
– Iguape!… meu
senhor.
– Iguape? Não
pode ser!…Iguape é um bairro pobre de Registro!
– Não!… Não!…
O senhor esta enganado, aqui é Iguape, ali é o Rocio e essa água toda ali é o
Valo Grande…
– Ah! Já
entendi… Esse é o famoso valinho que se atravessava de um pulo, e que depois
foi desmoronando até engolir a cidade inteira…
– Meu Bonje!…
O senhor tem certeza?
– Claro amigo!
Venho do futuro e conheço o passado remoto dessa região…
– O senhor
veio do futuro?
– Mais
precisamente do ano de 2.500 D.C.…
– E Iguape não
existe nesse futuro?
– Não!…
Estudei bem essa localidade. Fiz vários documentários sobre a lendária Juréia…
– Mas a Juréia
existe, eu fui lá!
– No meu tempo
ela é uma lenda, uma espécie de Atlântida tropical…
– Meu Bonje! E
Iguape?
– Iguape foi
uma cidade desaparecida. Também é uma lenda em minha época. Dizem nossas crônicas
que contava com um famoso templo, visitado por milhares de Romeiros. Ficou
conhecida na história antiga pela questão “JvT” (Joio Versus Trigo), uma
disputa local que acabou ocasionando a destruição da tal cidade…
– Meu Bonje! O
que era o tal “JvT”?
– Eram
picuinhas de partidos políticos. Brigavam tanto entre si, que se esqueciam de
administrar o município… estradas vicinais abandonadas, descaso na saúde, lixo
e entulhos nas ruas, antipatias gratuitas por quem não abraçava suas idéias e
métodos de agir… o Valo Grande desmoronava e assoreava o lagamar… com o tempo,
uma tal de Ilha Comprida, que ninguém conseguiu provar se realmente existiu,
com o aterro do Mar Pequeno, uniu-se a Iguape… lotearam os terrenos e depois
tudo afundou com o grande desgelo polar, ficando apenas as mansões das
montanhas.
– As mansões
das montanhas?
– Não contei?…
Toda a decadência começou quando um prefeito muito honesto e batalhador
conseguiu comprar com apenas seu salário de representante do povo, uma linda
mansão com piscina e altos muros. Todos os que o seguiram no cargo competiram
entre si para adquirirem uma moradia mais vistosa do que a dos outros…
– Meu Bonje!
– Com o tempo
e novas tecnologias, aplainaram o topo das montanhas e passaram a construir
seus palacetes nas verdes alturas…
– Não
acredito!
– Posso até
mostrar fotos! Pois é uma das sete maravilhas do mundo antigo, das poucas que
sobreviveram as catástrofes que quase destruíram o planeta…
– Meu Bonje!
Que coisa inacreditável!
– Sim!…
pensando bem, foi inacreditável… os mandatários construíram seus luxuosos
palacetes com seus salários, até hoje, apesar das duvidas, não conseguimos
provar se houve prevaricações, mas a cidade não progredia… todo o dinheiro dos
inúmeros impostos ajuda estadual, federal e mundial, era rapidamente utilizado em
pavimentação de estradas, reforma de escolas, maternidade e foguetes…
– Meu Bonje!
Não mudaram nem no futuro…
– Com o
descaso a cidade foi cercada pelo lixo, manguezal e doenças… só os da montanha
e seus afilhados, tinham uma vida digna, boa alimentação, saúde e segurança
garantidas…
– E ninguém
fez nada? Ninguém reclamou?
– Você esta
fazendo alguma coisa? Cidadão!
– Por favor!
Pode pular esta parte?
– Tudo bem!… o
povo sem poder criticar, averiguar e provar que o xis da questão estava na aquisição
das belas mansões, começou a grilar terrenos próximos a localidade chamada
Registro, e lá, construíram um favelão, ao qual batizaram com o nome de sua ex
amada cidade, que fora tragada pelo mar…
– Meu Bonje! E
daí?
– Bem!… A
classe dominante ficou isolada em suas mansões com piscinas e altos muros, no
topo das montanhas. A ajuda oficial acabou… a fonte de recursos secou… e o
tempo matou a todos, nem se quer temos o comprovante de seus nomes, apenas o de
quem iniciou o processo… Restaram as imensas construções vazias. No meu tempo,
habitadas por urubus e gaivotas, e, fotografadas do alto pelos raros turistas
que se aventuram por essas terras selvagens…
– Meu Bonje!…
Meu Bonje!
– Pare de
falar meu Bonje a todo o momento! Não tem outra forma de se expressar?
– Meu Bonje!…
Não!… Estou abismado…
– Afinal! Em
que ano estamos?
– Em 2009…
– Meu Bonje! A
decadência já começou…
                                            
GASTÃO
FERREIRA

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