FELIZ ANO NOVO/2010

                        Chegou 2010… 2009 o foi buscar em
Pariquéra, pois na cidade histórica ainda não tem uma maternidade: ”- Que
beleza de criança! Que carinha de safado… Bilú… Bilú… Bilú… Vamos lá
garoto! Vamos para casa que muitos foguetes nos aguardam.”
                        – Cara! Acabei de nascer e já vou enfrentar
barulho?
                        – É assim mesmo! Todos nós passamos por isso.
                        – Véiu! Você ta um caco e só tem 365 dias.
                        – É nossa sina! Envelhecemos muito rápido,
mas eu era bem mais tolinho. Você chega falando gíria e ca entre nós… Que
carinha de pilantra!
                        – Vim preparado para enfrentar a “barra”,
você está meio caquético e esqueceu que sou um Ano Eleitoral!
                        – Meu Bonje! É verdade. Você é um Ano Eleitoral.
Coitadinho! Quanto de promessas vai ter que aturar pobre criança. Pegue sua
sacola com as fraldas e pé na estrada, pois temos que chegar antes da meia
noite, a cidade inteira está em festa e na expectativa. Jamais saberei se os
fogos são uma homenagem de despedida a mim ou uma recepção a você.
                        Na estrada mantiveram a velocidade padrão e
2010 não parava de falar:- “Tio”! Vim com força total. Eu vou arrasar! Eu vou
ficar na história. Primeiro Ano de tombamento municipal… Primeiro Ano do
magnífico monumento na praça central… Primeiro Ano de jardins limpos, ruas
arborizadas. Ano da grana das ONGs… Ano da barragem… Ano da segurança
plena… Da saúde…
                        – Calma garoto! Ah! Essas crianças cheias de
sonhos, de onde você tirou estas idéias?
                        – Dos panfletos! Por quê? Algo errado.
                        – Menino! Não quero te assustar, mas a cidade
está um caos, não tem dinheiro para nada, uma paradeira de dar dó, mendigos se
apossando de locais públicos, adolescentes drogando-se na Fonte do Senhor,
prédios centenários perdendo o telhado, assaltos e roubos infernizando os cidadãos,
saúde em estado crítico. Você nasceu em Pariquéra porque na cidade não tem uma
maternidade e eu vou ser velado em um canto qualquer, pois não temos local
apropriado para um velório.
                        – Não!… Não!… O panfleto explicava
direitinho. Cidade Histórica Patrimônio Cultural Brasileiro. Belíssimas
fotos… Prédios coloniais muito bem conservados, praças e jardins muito bem
cuidados, crianças felizes esperando o ônibus escolar, pessoas sorridentes,
políticos atenciosos e honestos trabalhando em beneficio da população…
                        – Meu Bonje! Você leu um panfleto de
propaganda… Até sei de quem partiu essa idéia de enganar… A coisa está pior
do que eu pensava! Estão tentando engambelar o próprio Ano Novo.
                        -Sabe 2009! Eu estou chegando cheio de sonhos
de prosperidade, paz, saúde, progresso, amizade, honestidade, amor e mil coisas
para alegrar a vida do local onde fui designado para reinar. Será que não
erraram o endereço? Pare o carro! Quero voltar a Pariquéra.
                        – Agora não da mais, veja a placa, velocidade
máxima permitida 40 km e nessa estrada quase deserta tem radar.
                        – Meu Deus! Ferrei-me e já estou envelhecendo
prematuramente.
                        – É isso garoto! Quem manda acreditar em
panfletos político.  Outra coisa, por
aqui não se diz Meu Deus e sim:- Meu Bonje!
Gastão Ferreira/31-12-2009

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