ALÔ… ATENÇÃO!

         “Alô,
atenção…”. É nesse momento que a cidade para e a curiosidade abre suas asas
sobre toda a população; – “Meu Bonje! Quem será dessa vez?” se pergunta a
velhinha que se faz de surda para saber de todas as fofocas.
         “Faleceu
aos 27 anos…”. “Meu Deus! Tão jovem. Quem será? Será que é alguém que se
afogou? Casado? Pela idade deve ter filhos pequenos! Pobres crianças…” Se
indaga dona Zéfinha Catita, apurando o ouvido.
         “Na
cidade de Tricana…”, “Tricana? E isso é nome de cidade que presta? Onde será
que fica tal cidade? Quem será o falecido? Filho de quem? Tanta gente vai
tentar a vida fora… Estudar fora… Passear por lugares longínquos… Fala
logo quem é seu desgraçado!”
         A moto
acelerou com o escapamento aberto… Um caminhão deu uma brecada feroz… Um
rojão explodiu e lá se foi parte da notícia… “Seu sepultamento será hoje às
16 horas, no cemitério do Rocio, passando pela Basílica local.” A garota da
melhor idade, dona Zéfinha, permanece atenta aguardando o repeteco…
         “Alô…
Atenção! Faleceu aos 27 anos, na cidade de Tricana, a senhora Aparecida Cecília
Santos… Seu sepultamento será hoje às 16 horas no cemitério do Rocio,
passando o corpo pela Basílica local.”… “Cidinha Lilica! Filha de dona Dita
Manjuba e neta de Maria Guilhermina Antunes de Azevedo Marcondes Oliveira
Santos, a famosa Maria Catatau… Nossa! Lilica conheceu um turista rico no
“Boi” e se mandou… Quer dizer que o tal turista era dessa cidade de
Tricana… Que vergonha! Dita Manjuba afirmando aos quatro cantos que a filha
morava no exterior e agora todo o povo descobre que a coitada vivia em
Tricana… Vou consultar meu arquivo confidencial sobre a vida alheia e
perguntar ao Zeca Gado, meu informante secreto, o que ele sabe dessa história!”
        
Cidinha Lilica, dona Zéfinha! A senhora não ficou sabendo? O homem era um
alcoólatra e não foi no bloco do “Boi” e sim no do “Litrão” que ela conheceu a
figura… O casamento não deu certo! Se largaram e ela foi tentar a vida numa
boate no interior de Mato Grosso do Sul, numa cidadezinha pobre de nome
Tricana… Só não foi enterrada como indigente porque alguém, muito importante,
aqui da nossa cidade tem uma fazenda por lá e fez questão de trazer o corpo
para o torrão natal.”
         “Opa!
Quem foi esse alguém que prestou tão abençoado serviço, seu Zeca Gado? Só pode
ser um dos nossos honestos e caridosos representantes…” Perguntou a Catita.
         “Não
posso revelar o nome dona Zéfinha, apenas afirmo que não foi aquele que
construiu uma mansão em São Paulo, nem aquele que comprou vários apartamentos
em Santos e muito menos o que adquiriu uma confortável casa em Curitiba…”
Respondeu Zeca Gado.
         “Que
homem bom, esse alguém!… Gostei do que ele fez! Caso não seja um político e resolva
se candidatar na próxima eleição, já tem meu voto garantido e nem é precisa
pagar minha conta de luz… Obrigada seu Zeca, vou passar no velório e dar meu último
adeus a sapeca da Lilica.” Falou dona Zéfinha com os olhos marejados de tanta
emoção.
         No
Velório Municipal todos queriam ver o rosto de Cidinha Lilica e confirmarem se
ela tinha ou não cara de santa, os comentários eram os de sempre; – “Morreu na
flor da idade, com tudo para dar na vida…”, “Fique calma dona Dita Manjuba! Lilica
descansou finalmente…”, “Pelo menos voltou aos braços da mãe que a criou com
desvelado amor e fina moral…”, “É como dizem! Bebeu água da Fonte, volta…”
         Vamos
aguardar o próximo “Alô, atenção…” e saber mais sobre quem parte. É isso aí,
morrendo e fofocando.
Gastão Ferreira/2013
        
          
        
          

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