ADEUS!… MEUS AMORES     

         A
Princesa do Litoral resolveu passar o final de ano na cidade. Josephus, seu
secretário particular, descarregou as malas numa pousada no Centro Histórico.
        
“Josephus! Olha que gracinha… Quantas plantinhas verdes na beira das
calçadas.” Mostrou a nobre senhora.
         – “Majestade,
não são plantinhas verdes! É o mato que cresceu e não foi retirado.” Disse o
secretário.
         – “Não
sei o porquê de tanta maldade de sua parte com a rainha reinante? Há quatro
anos que você só vê o lado ruim da atual administração!” Choramingou a
princesa.
         – “É que
a senhora só lê as informações da imprensa oficial, eu converso com a plebe
para saber das coisas que ocorrem…”
         – “A
plebe vil! Sempre a plebe vil! Troca o voto por churrasco de gato e depois quer
comer Robalo… Veja Josephus! Uma multidão com nariz de palhaço despedindo-se
do ano que termina… Há quanto tempo não via gente tão feliz!”
         – “São
professores que ainda não receberam o sofrido salário que estão seguindo em
passeata em direção ao Paço Real, minha Princesa…” Informou Josephus.
         – “Nem
tudo é perfeito na vida, meu amigo! A rainha tem tantos problemas sérios para
solucionar, quem sabe esqueceu momentaneamente de pagar aos mestres…”
         – “E
também se esqueceu de pagar os fornecedores… Está vendo aquela fila
Majestade? São cobradores de dívidas desesperados em busca de pagamento de
antigos débitos…”
         – “Pobre
filha! Ser honesto nunca foi fácil…”
        
“Rárárárá….”
         – “Está
rindo do quê? Você acha que a Rainha não é honesta, Josephus?”
         – “Nem
pensar! Jamais passou pela governança de seu vetusto reino uma pessoa tão
íntegra, ética, transparente, sensível ao clamor público como essa que nos
deixa…”
         – “Concordo
plenamente! Jamais o prédio do Correio Velho foi tão mimado, abraçado, fogueteado
como nesse reinado que termina…”
         – “É
verdade! Pena que continua a ruína de sempre…”
        
“Josephus, Josephus! O que importa é a intenção…”
        
“Espero que Vossa Majestade não adoeça! Saiba que desde a semana natalina até o
final do ano na Unidade Mística só funciona a emergência…”   
        
“Finalmente uma boa notícia, nada como um povo saudável que não necessita de
médicos a toda a hora… Minha filha foi uma guerreira, está aí a Repaginação
da Beira do Valo para provar…”
         – “Qual
a Repaginação? Aquela que está cheia de rachaduras?”
        
“Detalhes, Josephus! Detalhes… Viu o magnífico Velório Municipal? Que obra
fantástica! Ficará para a história…”
         – “É
verdade Majestade! Pena que não tem cadeiras para os familiares sentar e
velarem seus mortos…”
        
“Detalhes, Josephus! Detalhes… A primeira mulher a me representar na longa
história desse reino…”
         – “A
plebe espera que também seja a última…”
         – “Que
palavreado é esse? Preconceito contra uma liderança forte, sensível, feminina?”
         – “Nada
disso, Alteza! É que mais uma igual e Iguape nunca mais se levanta…”
         – “Que
bom! Assistirei sentada a chegada do futuro…”
         – “Só
por Deus! A senhora é fã de carteirinha da rainha…”
         – “Sou
sim! Já governei e sei o fardo que representa… Cobrar honestidade de cada
assessor… Zelar pelo patrimônio comum… Manter a cidade limpa… Não
permitir politicagem… Tratar com dignidade quem deu um voto de confiança…
Essa menina foi tudo de bom!”
         – “É
verdade! Algumas pessoas pensam igual à senhora… Agora tudo passou, vamos
aguardar a posse de Coração Vermelho e torcer por mudanças… Vou guardar as
malas e arrumar uma condução para a Ilha Comprida, afim de que Vossa Majestade
possa curtir a passagem do final de ano assistindo a um grande show…”
         – “Nem
tudo é perfeito, Josephus!… Detalhes, detalhes.”
Gastão Ferreira/2012
        

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