A NOITE DO SACI

                Seu Fausto do Curió gostava de passarinhar. Desde guri
andava pelas matas ouvindo o canto dos pássaros. Em sua residência mantinha inúmeras
gaiolas e cuidava com muito amor dos pequenos cantores que alegravam sua vida
de humilde pedreiro. Numa primavera, véspera do Dia de Finados, com mais de setenta
anos de idade e já aposentado, saudoso das andanças pelos matagais, resolveu
após avisar a família ir até o rio Sorocabinha visitar seus amigos, os passarinhos.
            A foz do rio Sorocabinha que deságua no Mar Pequeno é
famosa por suas Mutucas, Mosquitos Pólvora, Cobras venenosas, Manguezal
intransitável, Robalos, Mandis, Carás, Traíras, Pirambóias, Caranguejos e Siris.
Seu Fausto não queria pescar, ele queria era ouvir o canto dos pássaros,
lembrar dos dias infantis, reencontrar o garoto do passado que amava a
Natureza. Dentre o trinar dos Sabiás e de inúmeras avoantes que enfeitam o
local, um grito chamou sua atenção:- “Tô Aqui!… Tô Aqui!”
            Seu Fausto seguiu o chamado e embrenhou-se cada vez mais
na mata densa… Perdeu o rumo, não conseguia voltar, anoiteceu rapidamente e
aquele “Tô Aqui!… Tô Aqui!” o levou para o desconhecido. Os familiares aflitos
e pensando no pior, entraram em contacto com a polícia, a notícia se espalhou e
dezenas de amigos moradores do bairro do Rocio se uniram na sua procura. Adentraram
a mata com luminárias, gritaram por seu nome, procuraram a noite inteira. Lá
pelas cinco horas da manhã ele foi encontrado adormecido sobre as raízes de uma
árvore no manguezal, os mosquitos Pólvora tinham feito a festa, seu Fausto estava
com a roupa em farrapos, bastante machucado e muito assustado.
            Na volta para casa perguntaram-lhe  o que tinha acontecido e ele respondeu: ”- Fui
enfeitiçado por um Saci!”. Muitas pessoas o procuraram para saber da história
do tal Saci, mas ele guardou o segredo consigo e jamais contou o que realmente
ocorreu. Muitas vezes seu filho, o Jóca, o pegava distraído, com um ar sonhador
e notava nos olhos de seu velho pai, um brilho de quem viu visagem ou coisas
das quais não podia falar.
            Essa é uma história verídica que aconteceu em Iguape e
seu Fausto do Curió foi o seu protagonista, portanto quando no meio da mata
alguém ouvir um chamado:- “Tô Aqui!… Tô Aqui!”, volte imediatamente para o
sossego do lar ou será enfeitiçado, perderá o rumo de casa e passará uma noite
sozinho com o Saci.
 Gastão Ferreira
           

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