A MUSA

            Para marcar em definitivo o maior carnaval do Vale, a
festa que atraí milhares de turistas do mundo inteiro para a cidade, que faz
concorrência direta a Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro e que lota todos os
hotéis, pousadas e casas de cômodos. O acontecimento que trás os jornalistas e
as televisões, representantes da mídia global, artistas americanos e
milionários árabes, foi criado especialmente para o evento um concurso:- A Musa
do Carnaval.
            As garotas que sonham em ser modelos, sair peladonas em
revista erótica, ser apresentadoras de programas de tevês ou sair da pobreza
através de um marido rico, ficaram eufóricas e foram batalhar os votos
necessários para a indicação como candidatas.
            No edital do concurso ficou explicito que a Musa deveria
ser simpática, culta, loira falsa ou verdadeira, ter seu nome vinculado a um
escândalo ou fotos publicadas em jornais e revistas e cláusula das cláusulas,
ter viajado a custa dos impostos dos munícipes para locais inacessíveis aos
pobres mortais em jatinho fretado.
            Quando as menininhas espertas descobriram que a musa de
um famoso bloco local poderia ser confundida com uma Vaca, que a de outro com
uma Galinha e que a de outro bloco com uma Falecidinha, tiraram a perereca da
chuva e foram reclamar com a “comichão” organizadora.
            – Não é justo! Diziam. Queremos aparecer e vocês nos
podam, cerceiam nosso direito básico com um concurso de caras e bundas
marcadas… Não vamos admitir isso!
            – Ne…Ne… Nem!E desde quando nós damos a vocês o
direito de reclamar? Que ousadia da parte de vocês garotas se insurgir contra
quem manda e desmanda? Quem vocês pensam que são?
            – Não é justo! Esse edital é de cartas marcadas…
            – Como ousam pensar uma coisa dessas? Bando de
desocupadas.
            – Olha aqui! Seu “comichão”… Aqui na cidade só tem uma
pessoa com as características exigidas. O senhor quer que gritem o nome da
mocréia?
            – Ah! Meus sais. Esse concurso tem que ficar na história
de nossa cidade e temos que ter uma representante à altura do evento. Uma
pessoa culta, simpática, inteligente, humilde e de uma beleza chamativa, algo
que atraia as lentes fotográficas…
            – E o senhor acredita que a velha Barbie é tudo isso? Uma
medíocre, sempre envolvida em purpurinas e dando uma de gostosa… Poupe-nos!
            – Meninas! Se enxerguem. Qual de vocês voou gratuitamente
pelos céus? Quem comeu lagosta com caviar?Quem tem um santo forte? Bando de
pobres! Qual de vocês desfrutou de um hotel nove estrelas?Vocês querem ver a
minha caveira? Estamos tentando o melhor… Ela é assim com o chefe e o chefe
já decidiu e assim será feito, custe o que custar… Lamento, mas somos todos
paus mandados… Oh vida!
            – Tá bom seu “comichão”! Nós vamos dar uma entrevista aquele
jornal que vocês amam de coração e aguardar as conseqüências.
            – Meu São da Ilha! Não façam isso. Eu posso perder meu
emprego! Não!… Vamos repensar o assunto… Podemos tirar a mocréia da jogada
e salvar a situação… Por favor!… Por favor!
            – Garotas unidas… Jamais serão vencidas. Garotas
unidas…
            – Oh! Adeus Musa do Carnaval. Essa não colou!
Gastão Ferreira
Obs. – Qualquer semelhança
com a realidade é mera coincidência. O concurso de Musa jamais ocorreu e todos
os personagens são fictícios… Nada de vestir carapuças.

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