A LÁGRIMA DE DEUS

            Na solidão do Nada o Verbo dormia e
sonhava. Constelações, galáxias, universos e multiversos povoavam seu sonho.
Sistemas planetários eram criados… Sóis de imensa grandeza, luas, asteróides
e esferas orbitavam na imensidão.
            O planetinha azul era o seu
preferido, um mundo quase aquático. Muito se divertiu povoando-o… Sua
imaginação não tinha limites e a perfeição era sua meta. Criou a matéria sólida
e deu forma a todos os seres…. Do átomo à suas ínfimas partículas, das algas
marinhas aos grandes vertebrados, da humilde grama as majestosas árvores, do
pequeno Beija-flor ao gigantesco Condor, da modesta fonte à imensidão do mar.
            A paz, a harmonia, a beleza… Cada
ser criado cumpria com um propósito evolutivo e o tempo passava na espera da
criatura que seria chamada “O Rei da Criação”, um ser com pensamento contínuo e
não fragmentado como os demais animais. Uma entidade mista, um invólucro
contendo o sopro do Verbo Criador… O Homem e a sua Alma.
            Essa criatura seria o jardineiro
planetário, o zelador do patrimônio divino, a inteligência materializada, o
único que teria uma idéia de toda a Criação. A bondade o acompanharia em sua
missão. A humildade perante a grandeza do Criador e a gratidão pelo existir
fariam dele um ser diferenciado, pois traria consigo a certeza da eternidade e
sua parte imortal falaria mais alto.
            O Verbo despertava e nesse fragmento
de tempo entre o sonho e a realidade ele viu a sua obra concluída…. Viu o
sangue de inocentes ser ofertado em sua honra, os grandes exércitos devastando
a Terra, as Cruzadas, a Inquisição, a Dor, a Revolta, o Assassinato… O forte
dominando o fraco, o poderoso desprezando o humilde, a vaidade tomando o lugar
da simplicidade, a luta entre a luz e as trevas e tudo isso em seu nome. Sua
mente criadora dera uma forma física a seu sonho, o Verbo criou a eternidade e
a impossibilidade de retorno ao nada original era nula. Nesse despertar o sonho
seria a realidade…. Não havia a mínima possibilidade de anular a criação, a
matéria estava a se condensar e a realidade a existir…
Nesse instante o Verbo chorou pela única criatura que
o conheceria, a qual presenteou com uma parte de si mesmo e as lágrimas do
Criador consolidaram o Universo. “Faça-se a Luz e a Luz foi feita”, o Homem é o
fruto das lágrimas de Deus.
Gastão
Ferreira

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