Querida Procotó

         Aqui
é seu noivo, o potro Bredipiti; confesso que estou um tanto envergonhado por
não enviar notícias. Não tenho acesso ao Facebook e somente hoje encontrei um
semovente disposto a escrever essa cartinha. Como sabes, vim com um grupo de
cavaleiros prestar uma humilde homenagem ao santo protetor; meu dono bebeu umas
e outras e me perdeu, foi esse o motivo pelo qual permaneci na cidade.
         Que
cidade linda meu amor! Cercada por montanhas, perto do mar e com muita água em
seu entorno. Um povo hospitaleiro e gentil. Conheci casualmente um rapaz, um
moço sadio e bem falante; ele ganha cem Reais por dia pedindo moedas aos
passantes… Não perdoa ninguém! Todos acabam contribuindo para as necessidades
básicas do guri; algumas pessoas informaram que ele compra pedras com o
dinheiro arrecadado, deve ser pedreiro ou mestre de obras… Não entendo os
humanos!
         Segui
um grupo de jovens que voltavam de uma balada; não me pergunte o que é balada!
Não sei… Uma festa com muitos doces e balas? Talvez! Era tarde da noite e eles
começaram a gritar palavrões em plena rua… Um divertimento estranho! Coisa de
humanos, reis da criação… Já pensou se não fossem os bichos mais inteligentes
do planeta? Grandes humanos!
         Amada
Procotó quase sofri um grave acidente; fui atropelado por uma bicicleta. Vinha
troteando pelo acostamento, sentido centro da cidade, minha preferencial e a
danada da bicicleta veio na contramão e me atingiu; nós cavalos, nascemos com o
senso de direção bem desenvolvido. Sei o que é esquerda ou direita, respeito às
placas de trânsito e sinais indicativos; parece que alguns humanos não
conseguem entender as leis do trânsito… Continuo sem entender essa gente!   
         Essa
estadia forçada na cidade grande está servindo para que eu amadureça meus
conhecimentos; os humanos adoram foguetes e rojões, provavelmente já nascem com
deficiência auditiva, os demais animais são extremamente sensíveis a ruídos e
sofrem com barulhos excessivos… Vá entender os sábios humanos!
         Observei
muitos humanos dormindo pelas calçadas; achei estranho! Os pássaros que não
tecem nem fiam têm suas moradas, mas os filhos dos homens dormem ao relento…
Muito triste! Não consigo entender os humanos.
         Tentarei
voltar para casa o mais rápido possível; ontem passei frente a um restaurante e
ouvi um freguês perguntando se serviam “bife a cavalo”, o pessoal da cidade
adora comer um tal de “espetinho de gato”, se comem gato, imagine se não vão
comer cavalo! Eu hein…
         Querida
Procotó, prometo que ao voltar, nunca mais nos separaremos; a conclusão a que cheguei
é de que jamais entenderei os humanos; um forte bafo no seu gangote e um belo
relincho de seu amado noivo…
                                                                  Potro
Bredipiti
Gastão Ferreira/2014
        

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