OS ESC…

         Desde
que o homem se deu conta de que é o rei dos animais, ele busca o domínio
absoluto dos corações e das mentes alheias. Não basta mandar no cachorro, no
eleitor, no adepto, no cavalo, no elefante; ele tem que determinar o que é bom
para toda a humanidade.
         Eram
quinze para o meio-dia quando Dona Lidú tocou a campainha da casa de Dona
Oidete… Dona Dete deixou o feijão no fogo e foi atender…
        
“Bom dia minha senhora! Gostaria de um minuto de sua atenção para falar sobre a
volta do Senhor…”
        
“Lidú querida! Há quanto tempo não nos vemos.”, falou Dona Oidete.
        
“Dete, minha amiga de infância! Acho que fazem uns trinta anos que não nos
vemos… Nem te reconheci; nossa você tá um trapo amiga!”, exclamou a visita.  
        
“É a vida de rainha do lar, Lidú! Marido, filhos, cachorros, mil problemas para
resolver.”, falou um tanto desgostosa Dona Oidete.
        
“Sei como é! Amiga, já passei por isso, mas depois que aceitei o Senhor todos
os meus problemas terminaram… E, por favor, não me chame de Lidú e sim de
irmã Lidú.”
        
“Eu hein! Qual o motivo da visita?”, perguntou desconfiada Dona Dete.
        
“Eu agora pertenço aos salvos do mundo, sou uma esc, ou seja, uma das ESColhidas
para viver eternamente no paraíso ao lado do Senhor… Não me leve a mal; você
também é uma esc, uma ESCrava do pecado, uma ESCrota, uma ESCória do inferno…
Ainda é tempo de dar uma chance ao pecador! Venho te trazer a palavra da
salvação; aceita?”, perguntou irmã Lidú.
        
“Nesse momento estou me sentindo pior do que um cocô de cachorro de crente.”,
disse Dona Oidete.
        
“Calma Dete! Eu sei que a verdade dói.”, afirmou irmã Lidú.
        
“Lidú, deixa a conversa para outra hora. Estou terminando de fazer o almoço e as
crianças vão chegar famintas da escola…”, pediu Dona Dete.
        
“Nem pensar! Não é todo o dia que a salvação bate a tua porta. Seja mais uma
testemunha do Senhor!”, implorou irmã Lidú.
        
“Olha bem Lidú! Eu não vi briga nenhuma… Eu não quero saber de nada… Eu
quero levar a minha vida sem fazer mal a ninguém e, por favor; volte outro
dia!”, disse uma estressada Oidete. 
        
“Pecadores! Todos iguais… No futuro, quando eu estiver ao lado direito do
Pai, gozando as delícias do céu e te ver no inferno, chorando, rangendo os
dentes de dor, levando garfadas do tinhoso, eu com certeza lembrarei esse
momento, desse agora em que renegas a verdade…”, exclamou irmã Lidú.
        
“Lidú! Por favor… Você está passando dos limites! Cai fora e me deixa
escolher o meu caminho.”, disse Dona Dete, batendo o portão.
         Foi
assim que Dona Oidete ficou sabendo da briga entre os esc; entre os ESColhidos
e os ESCrotos… Em algum lugar; dentro de nós, fora de nós, na imensidão do
universo ou dentro de nossa consciência ELE nos protege, guarda, rege e nos
avisa; – “Todos são meus filhos e eu amo por igual; minhas eternas crianças
brincando de viver!”
Gastão Ferreira/2014

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