O ARURÁ DO RIO DE UNA

            O jacaré-açu (Melanosuchus Níger) tem o
couro de cor negra. É uma espécie de jacaré exclusiva da América do Sul. Também
conhecido como jacaré-negro ou arurá, é um predador de topo de cadeia
alimentar. Exemplares adultos podem atingir 6,5 metros de comprimento e pesarem
meia tonelada. Normalmente, alimentam-se de pequenos animais, como tartarugas,
peixes, capivaras e veados. De grandes dimensões podem predar qualquer animal
de seu habitat, inclusive outros predadores de topo, como onças, pumas, jiboias
e sucuris. O nome aruá tem origem Tupi e significa mau e dele derivam arurá e
ururau.  
         No
Brasil colonial eram os rios as principais vias de transporte do império. No
Vale do Ribeira existiam inúmeros rios navegáveis. A lenda urbana do Arurá do
Rio de Una é do começo do século XIX e é recorrente na maior parte dos rios da
região (Ribeira, Peroupava, Suamirim, etc.).
         Contam
os mais antigos, afirmando que ouviram de seus avós, a história do Arurá do Rio
de Una; Um animal imenso que possuía três patas, a quarta pata ele mesmo comera
durante um período de grande seca na província. Do tamanho de uma canoa,
assustava os ribeirinhos e era o terror da criançada. Nunca ninguém o encontrou
pessoalmente, era avistado de longe singrando as águas. Era tido como o
responsável pelo desaparecimento de muitos pescadores e de pessoas que se
descuidavam a beira do rio.
         A
lenda do Arurá está praticamente extinta, conversei com os nossos sitiantes e
alguns se lembram de tê-la escutado de seus avós, mas não a recordam
plenamente. Eis um dos motivos pelo qual tento salvar as histórias de
antigamente; nossa tradição oral está morrendo. No passado esses causos eram
contados nas horas vagas, nas noites de luar para que as crianças tomassem
tento e se comportassem, pois a finalidade de uma lenda urbana é exatamente
essa; passar conhecimentos ancestrais as novas gerações de forma falada. Nossos
índios eram especialistas nessa prática; não possuíam escritas e a única
maneira que tinham de preservar as informações sobre a natureza, os animais, os
perigos da floresta era misturando a fábula com a realidade diária.
         Na
atualidade, com o advento da internet, tevê, celular, comunicação instantânea,
as pessoas perderam o interesse em ouvir histórias dos mais velhos.
Necessitamos escrever e preservar nossas lendas. Há milhares de anos, um
anônimo escritor, ouvindo as declamações dos aedos gregos preservou a Ilíada e
a Odisseia; no meu pouco saber, a história mais bela jamais escrita.
Gastão Ferreira/Iguape/2013   
        

Deixe um comentario

Livro em Destaque

Categorias de Livros

Newsletter

Certifique-se de não perder nada!