NOVOS TEMPOS; NOVOS MITOS…

            A menina Jocasta estava eufórica;
conhecera um príncipe, o garoto Laio, dono de uma insipiente boca de fumo e um
futuro chefão do tráfico no bairro Araripe. A mercadoria era de primeira e a
viagem foi prazerosa, resultado? Jô grávida aos treze anos de idade e Laio
papai aos quinze.
            Quando o bebê chegou, a vidente Lidú
foi categórica; – “Matará o próprio pai e terá um caso com a mãe! Minha
pomba-gira, Linda Tirésias, nunca se engana; oh coitado do infeliz!”
            Laio dispensou Jocasta, arranjou uma
nova paquera, pegou o filho pequeno e o confiou a um comparsa ordenando que
assassinasse imediatamente a criança de tão nefando fado. O capanga, que também
era pai, se apiedou do miúdo e o abandonou num lixão bem longe da cidade. Tio Políbio,
o manda-chuva do lixão, que não tinha descendentes, levou o nenê para o seu
barraco e o entregou a Mérope, sua esposa; resolveram chamar o neném de Édipo.
            Édipo cresceu esperto, igual a todas
as crianças criadas no lixão, um negociante de primeira, o orgulho de pai
Políbio e mãe Mérope. Aos quinze anos cometeu um pequeno deslize e quase foi
preso; comprou por uma merreca algumas mercadorias roubadas e para não ser
enquadrado como receptador, fugiu para outro bairro.
            Saudoso dos velhos pais e com medo
de visitá-los consultou uma cartomante; não gostou da resposta do oráculo; – “Matarás
teu progenitor e casarás com quem te gerou.”, “Quem afirma isso é uma tal de
Linda Tirésias, da qual jamais ouvi falar”, disse a cartomante.
            Édipo, extremamente crédulo em jogo
de búzio, tarôs, mandingas e despachos, entrou em crise existencial; – Nunca
mais chegarei perto de pai Políbio! Vou mudar de bairro e tentar esquecer esse
vaticínio.
            Novato no bairro Araripe, Édipo foi
levado à presença do chefão do tráfico local, que pensava ser o jovem um
olheiro de algum desafeto ou concorrente. Discutiram feio e Édipo, muito
esquentadinho, empurrou Laio, era esse o nome do chefão, que escorregou e bateu
com a cabeça, morrendo na hora. Édipo assumiu a chefia e se tornou o novo manda-chuva
local… Édipo estava com dezessete anos e cheio de amor para dar.
            Conheceu a periguete Jô, uma
tiazinha safada de trinta anos e sedenta de aventuras; foi amor à primeira
vista. Viveram felizes por cinco anos, os ciúmes de Jocasta, a Jô, acabou com o
romance.
            Édipo nunca mais viu pai Políbio,
mensalmente mandava-lhe um dinheirinho para as despesas básicas e morria de
saudades de mãe Mérope. Jocasta, a Jô, arrumou seu milésimo amor e esqueceu por
completo do fogoso Édipo.
            O tempo passou, Édipo virou crente,
não era mais desse mundo, não acreditava em cartomantes, feitiços e
pomba-giras; estava salvo. Casou com uma irmã de fé, Elizabeth Antunes,
ex-Lilica Esfinge, ex-garota de programa, ex-periguete e atualmente uma senhora
de muito respeito,  também salva dos
pecados do mundo. O casal tem quatro filhos, pois crente que é crente
verdadeiro não usa anticoncepcional. Antígona e Ismênia, as duas filhas, mais Etéocles
e Polinice, os dois garotos, convenceram Édipo a trazer vovó Mérope para morar
com eles, vovô Políbio faleceu de morte natural… Finalmente Édipo conheceu a
felicidade e jamais desconfiou que a profecia realizou-se totalmente.
Gastão
Ferreira/2013
           
  

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