NA FESTINHA DA VIDA

         Os
convidados chegaram; madame Cleyde e sua bolsa Louis Vuitton, a jornalista Charlene
Silva e seu sarí indiano, a pintora Rosalba Nunes e seu chapéu de plumas, a
artesã Naty Nathalia, o violeiro Natan, os jovens Pedro e Paulo, o casal Gerson
e Boninho, as garotas gêmeas Mary e Mery, a socialite Alexandra e seu colar de
diamantes.
         No
inicio o assunto foi à última viagem a Europa e as estripulias da rica Alex em
Paris; Charlene não ficou por baixo e contou de sua estadia no Nepal e Índia,
Naty lembrou que uma obra sua enfeita o palácio de um marajá em Calcutá… As
gêmeas falaram sobre gastronomia exótica e Pedro das pescarias submarinas em
Fernando de Noronha e das suas paqueras com as turistas milionárias.
         O
violeiro Natan abrilhantou a festa; Tom Jobim, Vinicius de Morais, Milton
Nascimento, Djavan, Cazuza, Chico Buarque… Um pedido para a música “A Professorinha”,
outro para “Ronda” e “Sampa”… Depois de “Trem das Onze” e “Saudosa Maloca” a
coisa esquentou e dá-lhe pagode, axé e rap… A mesa era usada para batucar,
tocar piano e acompanhar o ritmo.
         Acabou
o uísque, a cerveja também e a caipirinha de pinga tomou o lugar da caipirosca
de vodca; madame Cleyde confessou que sua bolsa era fajuta e Charlene jurou de
pés juntos que o local mais longe que conheceu foi Icapara… Era o “momento da
humildade”; a artesã Naty iniciou a carreira como Hippy e comeu o pão que o
diabo amassou… As gêmeas tinham dois anos de diferença uma da outra, Pedro e
Paulo estavam pensando em casamento gay, e, Gerson e Boninho mal se conheciam.
         Natan
volta a cantar, agora acompanhado de Pedro e atento ao ciúme de Paulo; a
socialite Alexandra ameaçou um leve strip-tease… Com os olhos rasos d’água
lembrou os bons tempos de garota de programa, fazia de tudo menos beijar na
boca… Com muito amor e suor fez um belo pé-de-meia, comprou bijuterias, deu
um brilho, mudou para uma cidade desconhecida e surgiu a fama de socialite; seu
nome de batismo era Creuza.
         Três
da manhã; Rosalba Nunes trocou seu chapéu de plumas pela bolsa Louis Vuitton de
Cleyde, Alexandra abraçada a Gerson fazia mil promessas de amor, Boninho
dormitava em baixo da mesa, Naty e a ex-gêmea Mery trocavam selinhos, Paulo e
Mary falavam sobre discos-voadores, lobisomens e vampiros, Pedro e Natan foram
examinar a viola no escurinho da escada… A festa estava no fim.
         Duas
semanas depois, num culto ecumênico no Centro de Eventos, todos os personagens
se reencontraram e nenhum deles se conhecia; foi irmã Dulcinéia, parente do
Pastor Rodolfo de Ogum, quem os reuniu para uma fervorosa oração pelas almas
dos pecadores.
         A
vida é um brilho passageiro… Somos personagens nesse palco Terra… Os atores
e suas máscaras entram e saem do tablado; alguns recebem aplausos, outros,
vaias… Viemos do pó e ao pó voltaremos… O importante é viver! 
Gastão Ferreira/2014       

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