FILMANDO…

         Eles
chegaram com a parafernália de estranhas máquinas; ruas foram interditadas,
bancos de praça pintados. Moradores convidados a participar do elenco das
filmagens assinaram contratos de uso de imagem a troco de um cachê.
         A
história se passa num local habitado por pessoas idosas; um lugar sossegado,
cercado por deslumbrante paisagem. Necessitava de setenta atores coadjuvantes,
a maioria da terceira idade. Os interpretes principais vieram da capital e
ficaram alojados em pousadas e hotéis. A equipe de filmagem contava com oitenta
pessoas. Seguranças, o pessoal de apoio, recepcionistas, motoristas,
alimentação, foram contratados na cidade.
         A
locação se estendeu por bairros rurais e pontos turísticos. A maior dificuldade
era silenciar os curiosos que acompanhavam a filmagem das muitas cenas; os
microfones são altamente sensíveis e captam sons até 200 metros de distância e
sempre tem alguém querendo aparecer mais do que os atores principais.
         Dona
Esmeralda, 75 anos bem vividos, apelidada “a joia da mamãe” desde o nascimento,
hoje apenas “Dona Joia”, deu vexame; ao passar perto da atriz principal abriu o
maior berreiro e balbuciou; “nunca imaginei que um dia estaria frente a frente
com Xuxa…” Corta! Ordenou o diretor.
         Foi difícil
segurar a tietagem de Dona Joia, sabia tudo sobre cada atriz; as novelas, os
filmes, as fofocas das revistas. Fazia questão de demonstrar a cada uma delas o
quanto eram especiais… As moças sorriam e nada mais!
         Os
coadjuvantes entram mudos e saem calados, não podem olhar diretamente para a
câmera e obedecem as ordens do ajudante do diretor. Dona Joia sabia disso,
mesmo assim queria estar junto de sua adorada Xuxa, dar um sorriso, quem sabe
um abraço na estrela…
         Até onde
sei Xuxa nem sabe da existência da pacata cidade, não participou da filmagem…
Que mancada hein Dona Joia? Filmando… Filmando… Filmando… Corta!
Gastão Ferreira/2014  

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