DONDOCANDO NO FACEBOOK

                   Mileide
Etelvina Rodrigues, Leide Vina, vinha de uma nobre linhagem de mandatários e os
álbuns da família nunca esconderam sua ilustre estirpe; a origem da riqueza
ancestral estava envolta em mistérios, dizem que um bucaneiro inglês aportou
por esses mares, nunca dantes navegados, no século XVI e se apaixonou pela
paisagem e por uma formosa índia tupi-guarani. O pirata após retirar todo o
metal amarelo que lastreava a nau, afundou a mesma, casou-se com a nativa por
amor e não porque a selvagem era a única herdeira das minas de ouro da
região… Essa parte foi misteriosamente retirada dos álbuns, trocadas pela
história de um príncipe árabe fugitivo, de nome Mohamed ou Osmar em bom
vernáculo, que aqui se exilou, e, por incrível que pareça tinha o mesmo
sobrenome do corsário inglês; Rodrigues.
         A
infância de Etelvina foi prazerosa; alimentada com litros e litros de leite
materno, comprado a preço de bananas das mães carentes, que chegavam a se
estapear na fila da ordenha, a guria logo que conseguiu falar, disse a sua
primeira palavra; caviar!
         O
roubo do peniquinho de ouro ficou na história; a miúda só conseguia fazer xixi
num penico de ouro maciço e o urinol desapareceu misteriosamente, apesar de
terem torturado todos os serviçais, o larápio nunca apareceu; hoje se sabe que
o ladrão era a mesma pessoa que no futuro roubaria peças sacras e a placa
comemorativa da visita de um famoso escritor à cidade, na época o pilantrinha
também era criança e ninguém desconfiou do safado. Na mansão de Mileide
Rodrigues o cofre estava abarrotado de ouro, seus pais viviam de comercializar
o precioso metal.
         Mileide
Etelvina Rodrigues debutou aos quinze anos; uma festa nababesca, um famoso galã
cinematográfico, pago a peso de ouro, dançou com ela a primeira valsa. O jornal
da cidade estampou a foto dos dançarinos e apelidou a garota de Leide Vina e
todos na cidade faziam rapapés ao cruzarem com a aprendiz de dondoca, sempre
arrogante e metida a besta.
         Muito
vigiada, muito viajada, muito esnobe; Etelvina conheceu Francesco Francezzini
pelo Facebook. Observou sua mansão na costa da Sardenha, suas limusines, seu
castelo na Escócia, seus muitos aviões, o iate luxuoso, a extensa fazenda na
Austrália e assim, sem querer querendo se apaixonou perdidamente… Foram
muitas as juras de amor trocadas em francês, italiano, inglês e portunhol… Em
francês o eterno “Je t’aime”, em italiano “Ti amo”, inglês “I Love you” e o
restante em portunhol, “Te quiero” e “Eu te amo”.
         Francesco
conquistara o humilde coração de Leide Vina, mas a família se opôs ao namoro; o
amor falou mais alto e Mileide vendeu suas joias e algumas roupas de grife. Com
o dinheiro contratou alguns meliantes para assaltarem o palacete paterno e
roubarem o cofre bem recheado de dólares, euros e ouro. Os assaltantes
cumpriram o prometido, levaram Mileide simulando um sequestro, ficaram com a
grana, deram umas merecas para a guria ir ao encontro de seu príncipe encantado
e desapareceram no mundo.
         Com
pouco dinheiro, mas, cheia de sonhos de riqueza, Etelvina viajou de ônibus pela
primeira vez na vida, foi encontrar seu amado na Bahia; entregou-se ao amor
numa mansão à beira-mar e durante uma semana disputou com Afrodite todas as
batalhas eróticas e saiu vencedora.
         Francesco
foi comprar alimentos e não voltou; Leide Vina procurou sua bolsa e não achou…
Os donos da fabulosa mansão voltaram da viagem, chamaram a polícia e Leide Vina
teve de dar mil explicações na delegacia. Francesco Francezzini, Francisco da
Silva, mais conhecido das autoridades como Chico Tranqueira, useiro em dar
golpes amorosos em velhas ricas desapareceu sem deixar vestígios.
         A
polícia entrou em contato com os Rodrigues, estavam pobres e não tinham
condição de mandarem o dinheiro da passagem para a filha voltar ao aconchego do
lar, aliás, nem lar possuíam mais, estavam morando de favor numa velha casa
meio abandonada e avisaram que eram sabedores da participação de Etelvina no
fatídico assalto, pois fora filmada na hora em que abriu a porta aos
malfeitores.
         No
Facebook a postagem mostrava uma belíssima residência em Monte Carlo, Ferraris,
Iates, lanchas e um comentário; “- De que vale a riqueza se não tenho amor?”,
acompanhava a foto de uma bela e jovem morena, com olhar triste e sonhador…
Seu nome Leide Vina de Shuterland… Cinco mil jovens, de vários países,
adicionaram-na como amiga e todos sonhavam em conquistá-la; viva o Facebook! 
Gastão Ferreira/2014    
        

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