A Pequena Anta

                A aldeia estava localizada a margem de um regato em
meio à densa vegetação da mata atlântica; a onça, o puma, o bugio se serviam do
riacho para saciarem a sede. Os homens caçavam e as mulheres cuidavam da
plantação de mandioca, milho, batata doce; as mães vigiavam os curumins que
teimavam em desafiar a floresta repleta de animais ferozes, cobras, aranhas e
outros seres peçonhentos. As mulheres também cozinhavam, preparavam bebidas,
educavam os filhos, limpavam as malocas e felizes esperavam o retorno dos maridos
da caçada diária.
         Foi
nesse ambiente que nasceu a cunhatai Tapira, uma linda indiazinha de gênio
gentil, uma Pocohantas tupiniquim, tão inteligente que ganhou o nome do bicho
mais esperto da fauna nativa; uma anta.
         A
pequena Anta era a alegria da aldeia; ao acordar pedia benção a Tupã,
respeitava os anciões da tribo, extasiava-se perante um por de sol, o brotar de
uma bromélia, o despontar de uma flor. Passava horas e horas vendo os pássaros
construírem seus ninhos, seguia com atenção os carreiros de formigas, as
estripulias dos macacos nos altos galhos, ou seja, era uma fonte de brincadeira
de mau gosto para os demais curumins, uma Poliana tropical.
         Perto
da aldeia existia uma vila e no povoado uma capela; Tapira descobriu que a
ermida era a casa de Deus e todo o santo dia ficava por muito tempo dentro da
igrejinha, conversando com Deus. Uma velha freira, responsável pela limpeza do
templo, notou a criança tão rezadeira, e, curiosa perguntou o que ela tanto
fazia no local. Tapira respondeu;
        
“Eu quero aprender a ser boa, honesta, ética, educada, responsável e é por isso
que venho aqui falar com o papai do céu.”
         A
religiosa, com os olhos marejados, perante tanta pureza e ingenuidade, não se
conteve e disse a cunhatai; – “Não se preocupe minha pequena, você é um lírio
do campo, basta que continue a agir corretamente; ame a mãe Natureza, respeite
os animais, converse com o vento, as nuvens, os pássaros do céu e nosso pai
celestial olhará por você.”
         A
tribo de Antinha descobriu as delícias da civilização; hoje vende palmito,
folhagens e artesanato na feirinha rural de uma pequena cidade litorânea. Quem
propiciou a mudança cultural foi Tapira… Criou uma ONG, vendeu as terras da
aldeia, montou uma cooperativa, arrumou um monte de inimizades, persegue
desafeto e conhece metade do planeta. Seguiu os conselhos da velha religiosa ao
pé da letra; diz amar a mãe Natureza, os animais, os pássaros do céu. Os
defensores da natureza babam ao ouvir seus discursos e nem desconfiam que
Tapira, a pequena Anta, virou uma Raposa há muito tempo.
Moral da história; Até mesmo uma Anta
pode se dar bem na vida, basta fazer o discurso que todos querem ouvir.
Gastão Ferreira/2013     
        

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