AMOR REMUNERADO

         Conta
uma velha lenda urbana que há muito e muito tempo, em meio a uma densa
floresta, próximo a um grande e caudaloso rio, não distante do mar um reino de
nome Pindaíba passava por serias dificuldades administrativas; a rainha
Fantasia, conhecida como a bondosa-furiosa, estava para abdicar do trono e três
nobres fidalgos se candidataram ao cargo máximo.
         Os
gentis cavalheiros disputaram entre si a primazia do reino; muitas promessas
foram feitas, podres dos mais podres expostos sem dó nem piedade, a intimidade
pessoal enxovalhada sem pudor, vilanias insinuadas, ameaças veladas e
desveladas eram murmuradas pelas tabernas e antros de perdição. O ouro comprou
adeptos através de bebidas, comidas e diversão gratuita à plebe ignara.
         Um
novo rei conquistou o trono com a promessa de uma devassa geral; velhos
arquivos, atulhados de desmandos e maracutaias seriam examinados e, doesse em
quem doessem os desacertos, seriam cobrados perante a lei… Viva o austero rei!
Nove fidalgos, suas excelências, auxiliariam o jovem monarca na árdua tarefa de
governar com humildade, honestidade e ética o fantástico reino de Pindaíba.
         O
reino desde épocas remotas era governado, por baixo dos panos pelo Amor
Remunerado; um tipo de amor que visava interesses pessoais e grupos
selecionados de nobretes famintos pelo poder e pelo ouro. Todos os ex-reis
exaltavam o amor, mas o Amor-amor era coisa rara e nunca compareceu a triste mesa
dos comensais pobres… Esse amor remunerado cantado em prosa e verso deixou
muita gente com um bom pé de meia, além de castelos, carruagens de luxo e
cargos vitalícios em outras cortes… Viva o amor remunerado!
         O
terno coração do jovem rei se rendeu ao amor; coisa bonita de se ver! Parecia
coisa de juntos & misturados; perdoou seus inimigos, afagou desafetos com
honrarias e cargos. Homenageou e elogiou a antiga rainha, aquela que queria
vê-lo morto e enterrado. Conquistou suas excelências com mimos e mais mimos,
menos uma das excelências; o excêntrico Wally!
         Wally
era apelidado de excêntrico pela sua mania de prezar a honestidade, a
transparência e a ética… Um estraga prazeres! Sua marca era um “W”, a
fatídica marca do Wally. Suas virtuosas excelências faziam o possível para
conquistar a simpatia de Wally… O problema era que “W” não se vendia não se
alugava e não se emprestava e mandava ver; colocava a ética e o dever acima dos
salamaleques e peraltices da corte.
         Os
amigos do Wally foram apelidados de Tontos e os inimigos de Sargento Garcia; “Wally
quer ser o próximo rei!” exclamavam os habitantes de Pindaíba. Conta à lenda
que o famigerado amor remunerado, que sempre interferia no destino do reino,
tentou conquistar o coração de Wally, não conseguiu e sempre que via a letra
“W”, a marca do Wally, se punha a chorar e a rogar pragas… Aos poucos os
Sargentos Garcia foram diminuindo e o número de Tontos aumentando, mas aí
começa outra lenda urbana em Pindaíba que por enquanto desconheço.
Gastão Ferreira/2014        
          

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