A moça da estrada de Pariquera

         Naquele tempo um compromisso era levado
à sério, e um casamento durava para sempre. As meninas eram educadas para
casarem, ser mãe, dona de casa, sofrerem em silêncio as agruras da vida. Marilda
conheceu Dito Beleza na infância, ele foi seu primeiro e único namorado;
moravam no bairro Sete Belo, raramente vinham à cidade. Marilda jurou amor
eterno ao Ditinho.
         O enxoval demorou anos para estar
completo; foram quase dez Festas de Agosto. O dinheiro era pouco, mas em cada
festa um lençol, uma toalha de mesa, uma cortina se juntava ao dote. Um dia a
casa ficou pronta, os poucos moveis comprados a prestação, quitados. A data do
casamento foi marcada, enviaram os convites para os amigos comparecerem, tudo
nos conformes para um final feliz.
         O casamento seria realizado na igreja da
matriz; os convidados e o noivo foram a frente, e ficaram na espera da noiva
que não apareceu. O carro em que Marilda vinha para o casório bateu de frente
com um caminhão bem na curva do Rio Sorocabinha, e a moça de branco morreu na
hora; foi sepultada vestida de noiva, e o tempo passou.
         Dito Beleza conheceu Sonia Regina, a
garota morava no bairro do Rocio; coisas estranhas começaram a acontecer no
Sete Belo. Maria Zilda adorava dançar, percorria quilômetros para curtir um
fandango. Eram três da manhã, a galera caminhava animada, comentando do baile.
Maria Zilda, cansada, ficou um pouco atrás do grupo, e quase desmaiou de susto.
Uma mulher vestida de noiva saída do manguezal, andava pelo acostamento da
rodovia, e perguntou por Dito Beleza.
         Claudia Elisa, a ex-garota topa tudo,
deu de cara com a noiva de branco. A visagem lhe deu um belo tapa na cara, além
das ofensas, predisse que se Claudia prosseguisse com a vidinha de garota de
programa seria assassinada. Elisa nunca mais ficou pedindo carona, altas horas,
na estrada. Não é mais do mundo, só sai de casa para o culto, e mesmo assim
acompanhada.
         Quem desvendou o mistério foi a vidente
Terezoca; ela conversou com a moça de branco. A rapariga estava desesperada,
Ditinho esquecera as juras de amor eterno que lhe fizera. Ela, Marilda, já não
significava nada para ele? Por onde andava Dito Beleza? Ele não podia
descumprir o prometido, a hora de casar se aproximava e ela não achava o noivo.
Agora perambulava dia e noite pela estrada, Dito jamais se casaria com outra,
ele era dela e de ninguém mais. O motivo de andar pela estrada era que jamais
encontrava com o Dito, na casa não havia ninguém.
         Dito mudou para a Barra do Ribeira,
nunca mais passou pela rodovia que vai à Pariquera. Marilda não sabe que ele se
casou com Sonia Regina, tiveram três filhos, e já é avô. Ela continua a
procurar pelo noivo, não nota o tempo passar, vive num outro mundo, não sabe
que morreu num acidente de carro, há muitos e muitos anos. Em noite de lua
cheia, um pouco antes da curva do Rio Sorocabinha, muitos motoristas avistam
uma mulher de branco andando pelo acostamento; ali os acidentes são fatais.
Gastão Ferreira/2017                                                                           
        
               
        

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