2017 chegando

         Pela
primeira vez o Ano Velho foi buscar o Ano Novo de moto na maternidade de
Pariquera; – “Seja bem-vindo, semenino! Ponha o capacete, e vamos pegar a
estrada.”
        
“Para que o capacete, velhinho?”
        
“É para você não ouvir os desaforos do povo; qualquer coisa, também fique de
olhos fechados para não notar a situação caótica da cidade.”
        
“Eu venho cheio de esperança, e o senhor vem com esta conversa detonante…”
        
“Esperança? Sei! É a última que morre. A minha morreu faz um bom tempo.”
        
“Eu acredito que serei um Ano muito especial…”
        
“Pobre criança! Todos nós dizemos o mesmo quando chegamos. Reparou como estou
um caco?”
        
“É, notei! Está bem apagadinho. O que aconteceu?”
        
“Fui xingado de todos os nomes feios nas passeatas…”
        
“Opa! Passeata. O que é passeata?”
        
“É quando o povo se revolta, e sai insultando Deus e o mundo.”
        
“Nossa! Insultaram Deus?”
        
“Sim, é que na cidade para onde vamos, ele tinha um outro nome, mas o seu poder
acabou…”
        
“Quer dizer que temos um novo deus?”
        
“Sim, e dos bons!”
        
“Sempre buscaram o Ano Novo de táxi, por que desta vez foi diferente?”
        
“Ganhei esta moto em uma rifa; aproveite a viagem. Quem sabe você no final de
2017 não virá de helicóptero buscar o 2018…”
        
“Lá encima me disseram que talvez o senhor viesse me buscar de carrinho de
mão…”
        
“Roubaram o carrinho de mão. Que guri chato! Tudo bem, eu confesso, a moto não
é minha; eu roubei!”
        
“Meu Bonje! Um velho ladrão.”
        
“Se todos roubaram, por que eu não poderia afanar alguma coisa?”
        
“Ainda bem que a nova ordem é; não roubar e não deixar roubar.”
        
“Oh, coitado! Vou te deixar na passarela. A moto pode estar sendo procurada
pela polícia, e eu não posso perdê-la.”
        
“Vai para onde, velhinho?”
        
“Para o lugar onde vão todos aqueles que se deram bem na vida…”
        
“Que bacana! O senhor merece o paraíso para descansar; trabalhou muito, suou a
camisa, foi ofendido, sofreu calado… Posso saber para onde o senhor pretende
ir?”
        
“Para o Chile…”
        
“Para o Chile? E por que o Chile?”
        
“É lá que eu tenho umas continhas para acertar com alguém que acabou comigo…
Adeus garoto! E fique esperto; quem sabe a coisa mude para melhor, e você será
conhecido como 2017, o ano da mudança.”
        
“Obrigado, vovô! Vá devagar que o Chile é longe.”
Gastão Ferreira/2016 dizendo adeus.

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