O jeito iguapense de
ser
         A
Terra é a nossa casa no espaço, um planetinha azul no final da Via Láctea,
iluminado por um sol amarelo de quinta grandeza; o animal mais inteligente, o
predador máximo, o topo da linha evolutiva, é uma besta que se auto intitula o
rei da criação, e chama a si próprio de homo sapiens, é   também
conhecido vulgarmente como o bicho homem; ele divide o seu habitat com milhões
de outros seres. Até o momento, ele acredita que não apareceu nenhum parente seu,
vindo de outro lugar no universo, mas segundo pinturas rupestres de milhares de
anos, esculturas astecas, egípcias e chinesas, elas nos mostram que já fomos
visitados por extraterrestres. 
         Cada
povo do planetinha azul tem suas manias, suas comidas preferidas, bebidas, modos
diferentes de encarar a vida, suas peculiaridades, seus costumes e hábitos. É
isso que torna a vida diferente, é o que move as pessoas, e as faz viajar para
conhecer cidades e nações. O que será que diferencia a cidade de Iguape,
litoral sul do Estado de São Paulo, de outras cidades?
         O
iguapense nato, aquele de ancestrais raízes caiçara, aparentemente em nada se
difere de um sapiens normal, isso na aparência, pois é só prestar atenção e
tudo muda de figura; o filhote da Princesa dificilmente anda pela calçada, os
turistas ficam admirados com tantas pessoas andando no meio das ruas. Mal sabem
eles, os visitantes, que existe uma razão subconsciente para tal usança; a
Princesa do Litoral está para completar 481 anos, o Centro Histórico tem
casarões centenários, e qualquer serracimano deveria saber que nos tempos de
dantes, os penicos eram descarregados pelas janelas, nas calçadas, e azar de
quem estivesse passando naquele momento pelo local. Isso ficou no psicológico
dos moradores da cidade, e é o motivo subliminar que os leva a fugir para longe
das calçadas. Segundo pesquisas, quem muda para Iguape, leva aproximadamente
seis meses para adotar a mania de andar pelo meio da rua.  
         Outro
costume Iguapense que chama a atenção; ficar de longe, de bituca, sapeando as
novidades. Tal mania pode ser confirmada no período eleitoral; durante os
comícios, ficam frente ao palco iluminado as portadoras de bandeiras, os cabos
eleitorais contratados para trabalharem pelos candidatos, todos gritando e
aplaudindo histericamente seus patrões, um pouco mais afastados estão
posicionados os parentes, os amigos, os que terão cargos no futuro governo, os
que querem cargos no futuro governo, os puxa sacos do futuro governo. Bem mais
longe, quase na esquina, aquele monte de gente com cara de nuvem, admirando a
paisagem, mas de olho em quem trafega pelo pedaço, e também de antena ligada em
cada palavra do discurso do candidato.
         A
mania de ficar longe do foco de eventos se estendia para a frente de clubes
noturnos, shows na praça, missas e enterros; quem não lembra que há poucos
anos, era normal o povo se aglomerar sobre a grama do jardim, na Praça da
Matriz, e apenas algumas gatas pingadas e maluquetes de plantão ficavam
rebolando e gritando frente ao palco do show; isso também ocorria frente ao
Sambão Rochamar, Clube Alvorada, Supimpa Futebol Clube, Sandália de Prata, Casa
da Sogra, Risca Faca, Toca da Onça e outros antros de perdição.
         Apesar
de ser terra de pescador, outra mania do iguapense é ficar observando quem
pesca, e começar a dar palpites; – “Joga mais longe!”, “Troca de isca…”, “O
peixe está beliscando, olha, olha…”, este estranho comportamento se estende
para o serviço de pedreiros; sempre tem alguém espiando o trabalho de pintores
de paredes, pedreiros, ou qualquer serviço que possa ser observado de longe.
         Enfim,
este é o jeito iguapense de ser; nossa maneira de marcar presença no planeta
azul. Bem-vindo a Iguape, terra do Bom Jesus, da manjuba, da simplicidade, da
maneira caiçara de ser.
Gastão Ferreira/2019

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