2022 chegou

(Os fogos silenciosos)

 

         Exatamente
à uma hora do dia primeiro do ano de 2022 acordamos com os uivos de um cão
adolescente. Era Ottony, um filhote de labrador que vive junto à família de Seu
Kazuo, e que foi levado para as festas de passagem na cidade grande…

 

         Pobre
Ottony, estava tão feliz; dizia ser a primeira vez que assistiria a queima de
fogos silenciosos, pois haviam criado uma lei proibindo a explosão de rojões,
bombas, bombinhas e quem as soltasse estava sujeito a multa, menos o pessoal
das bocas de fumo que as usam para sinalizar a chegada de novas mercadorias.

 

         Festa
na Praça da Matriz, festa em todos os bairros, festa nas casas; comida e bebida
a vontade, e os obedientes cidadãos não soltaram nenhum foguete, coisa rara de
acontecer, pois sempre tem um espírito de porco que quer aparecer…

 

         Desta
vez quem fez questão de sair mal na fotografia foram os responsáveis pelos
festejos; a queima de fogos superou a da Festa do Senhor Bom Jesus… Tem gente
acreditando que barulho serve para afastar o vírus do Covid, pois até o
sitiante mais jacu sabe que o vírus é um bicho muito sensível, e é por isso que
os homens da lei permitem motos com escapamento aberto altas horas da noite
acordando doentes, velhos, crianças, gatos e cachorros, e também sabem que os
carros com som altíssimo rondam a cidade tentando afugentar o sonolento vírus…

 

         O
filhote Ottony quase enlouqueceu, correu desesperado e sem parar desde o bairro
Canto do Morro até o bairro Ponte do Mathias, um pouco mais de dez quilômetros;
colocou as suas patinhas tapando as orelhas e gania de fazer dó, se lamentando;
– Me enganaram, os fogos não eram silenciosos!

 

         Pelo
que contou era para ser um final de ano diferenciado, todas as praças
enfeitadas, coisa nunca vista na Princesa, gente bonita fazendo feio, gente
feia fazendo bonito, e vice-versa… Os bares, lanchonetes, points, pensões,
hotéis, restaurantes, os carrinhos de pamonha, espetinho de carne, peixe,
frango, linguiça, carne de paca, jacaré, onça, pipocas, hot-dog, algodão doce,
raspadinha, água de coco, melancia, abacaxi, goiaba, xurrus e sorvetes, todos
com longas filas; gente feliz e grata por ter escapado por um triz de curtir a
passagem de ano no outro mundo.

 

         Ottony
está agora em franca recuperação, sabemos que se esconde na mata, longe do
barulho; vai demorar um tempão para ele voltar a acreditar nas leis dos
homens… O dogue teve sorte parece que na Barra do Ribeira e no Icapara os
fogos conseguiram o seu intento, afugentar o vírus do Covid, os humanos estavam
todos sem máscaras.

 

         Que
2022 venha com força total, trazendo profundas mudanças em nosso modo de vida,
como diz o meu dono; – É melhor JAIR se acostumando…

 

Omisso, um cão rural

 

Gastão Ferreira/2022

           

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