Meu primo Bad-boy

 

         Meu
tio o cachorro Baltazar conseguiu convencer o dogue Bad-boy à passar um tempo
aqui no sitio; o garoto é a vergonha da família, logo titio tão severo, tão
tradicional. Desde filhote o cusco Melchior se diferenciou de Baltazar Júnior e
Gaspar, a ninhada feliz de tia Sarita.

 

         É
bom lembrar que titio Baltazar é cria do Pastor Sillas, e todos os animais
dependentes do Pastor têm nomes bíblicos, o cavalo Sanção, o gato Pilatos, a
galinha Madalena, o outro gato chamado Dimas, um senhor ladrão, e o porquinho
Judas.

 

         Na
passagem de alguns pedintes pelo sitio, o aborrecente Melchior resolveu seguir
o grupo; – “Eu quero ser livre! Dormir ao relento namorando a lua, provar de
todos os sabores, pedir comida cada dia em uma casa diferente, beber água da
fonte, sem ninguém para mandar em mim…

 

        
“Melchior, meu filho, a vida dessa gente nômade é curta; não se engane os
vícios conduzem à caminhos difíceis… Não se vá!”, pediu tio Baltazar.

 

        
Não se preocupe papai! Vou mudar meu nome para Bad-boy, e tentar ser feliz
longe dessa jacuzada da zona rural; as ruas da cidade grande me aguardam…
Fui.

 

         Veio
a pandemia, e titio preocupado com o seu pimpolho; em um domingo tio Baltazar
foi na “Feirinha do Produtor Rural” acompanhando o pessoal do nosso sitio, e
encontrou com o seu filhote. Magro, sujo, desleixado, a triste figura do
próprio filho pródigo, e titio conseguiu convencer o moleque à passar uma temporada
na zona rural, ao menos até o término do “fique em casa” e não fique na rua
pedindo coisas para gente estranha.

 

         Melchior,
digo Bad-boy chegou pondo panca de malandro; gingado de capoeirista, muita
gíria, palavrão… Passou alguns dias na porta da bodega do Seu Malaquias
esperando que alguém lhe oferecesse uma dose de pinga, também furava sacos de
lixo procurando por restos de alimentos… Uma vergonha para nossa família!

 

         Contou
da sua vida boêmia na cidade grande; participava de grandes muvucas defendendo
seus amigos pedintes, foi conhecer o mar, as portas dos supermercados, as
padarias e lanchonetes… Não fez amizade com o pessoal da cidade, uma gente de
nariz empinado e que negavam uma moeda para um pedinte comprar pão; bando de
mão de vaca!

 

         Era
muito bem tratado, apesar dos mendigos não gostarem de um banho, eles cuidavam
muito bem de seus amigos de quatro patas; Bad-boy aprendeu muitas coisas com
eles, e se mostrava saudoso de todos eles…

 

         Um
belo dia Bad-boy não amanheceu no sitio, foi visto altas horas percorrendo a
estradinha de terra que leva à rodovia e depois à cidade grande; pegou gosto
pelas drogas, pela vida sem cobrança… Tio Baltazar entristeceu, envelheceu,
perdeu um pouco do brilho; – Ah, como os filhos judiam dos pais, sejam filhos
de bicho, sejam filhos de homens!

 

         Bad-boy
desapareceu! Ninguém sabe ninguém viu; uns dizem que seguiu para outra cidade,
outros afirmam que é curta a vida de um andarilho. Adeus Melchior! Se cuida
Bad-boy.

 

Omisso, um cão rural

 

Gastão Ferreira/2021

 

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